Folha de S.Paulo

QUE CARNAVAL É ESSE?

- SARAH MOTA RESENDE

DE SÃO PAULO

Em dezembro do ano passado, um meme começou a ganhar vulto na internet com um alerta: o brasileiro deveria se preocupar pois, até então, a folia carnavales­ca de 2018 ainda não tinha um sucesso para chamar de seu.

Mas a resposta estava próxima: o funk “Que Tiro Foi Esse”, da cantora Jojo Todynho, lançado no fim do ano.

A frase que dá o título à canção se popularizo­u nas redes sociais —até Caetano Veloso entrou na onda, encenando uma pessoa caindo ao som de um tiro no momento em que a funkeira grita.

A batida do funk firmouse, afinal, como promessa a hit do vindouro Carnaval.

Seguindo tendência que dura cerca de dez anos, a música da vez nesse feriado é um funk, e não é um axé.

O gênero surgido na Bahia embalou foliões por décadas e consolidou-se como representa­nte oficial do Carnaval brasileiro graças a hits hoje vistos como clássicos, caso de “Milla” (1996), do cantor Netinho, ou “Swing da Cor” (1991), de Daniela Mercury.

No Carnaval do ano passado, segundo levantamen­to feito pelo Google a pedido da Folha, as três músicas mais ouvidas no YouTube tinham ingredient­e de funk: “Deu Onda” e “Olha a Explosão”, dos funkeiros MC G15 e MC Kevinho, respectiva­mente, e “Loka”, parceria das sertanejas Simone e Simaria com Anitta.

A empresa estudou os vídeos mais vistos duas semanas antes do Carnaval, na semana da folia e nos sete dias posteriore­s, nos anos de 2008 a 2017, em todo o país.

De acordo com os dados, um axé não figura entre as dez canções mais ouvidas desde 2013, quando a quinta música mais popular na plataforma foi “Largadinho”, da baiana Claudia Leitte.

Naquele ano, os dois primeiros lugares do ranking foram dos funks “Passinho do Volante” (do refrão “ah lelek lek lek”), de Federado e os Leleques, e “Amor de Chocolate”, de Naldo Benny.

Desde 2008, o axé só liderou o ranking nos anos de 2011 e 2010 graças aos hits “Liga da Justiça”, do grupo Levanoiz, e “Rebolation”, da banda Parangolé.

Para Leitte, o fenômeno não é novidade e tampouco é algo ruim. “Carnaval sempre foi plural e acho que por isso faz o sucesso que faz”, disse a cantora à Folha. Ela lembra que “Anna Júlia”, da banda de rock Los Hermanos, já foi a música do Carnaval.

Já para Ivan Siqueira, professor da Escola de Comunicaçõ­es e Artes da Universida­de de São Paulo e especialis­ta em história da música, os hits de Carnaval vêm derivando muito do que faz sucesso no resto do ano, sobretudo no eixo Rio-São Paulo. “E ouvese muito funk”, diz.

“No caso da Bahia, tivemos no ano passado uma promessa de sucesso com ‘Me Libera Nega’, do MC Beijinho, que não decorre da tradição do axé”, lembra. PARCERIAS No lugar de hits pensados para estourar no auge do verão brasileiro e cair nas graças de quem gosta de pular o Carnaval, artistas que estouraram com o axé vêm apostando em parcerias —tendência também percebida em outros gêneros.

A própria Claudia Leitte fornece um exemplo. Seu mais recente lançamento é a música “Carnaval”, cantada em inglês e fruto de uma parceria com o rapper americano Pitbull.

Antes, há cerca de dois meses, a cantora também lançou “Lacradora”, outra parceria, desta vez com as sertanejas Maiara e Maraísa.

Ivete Sangalo é outra “axezeira” que segue essa tática. Em outubro, ela lançou “Cheguei Pra te Amar”, uma espécie de reggaeton que conta com a participaç­ão de um funkeiro, o MC Livinho.

Se Ivete está “fora do páreo” neste Carnaval —está na reta final de gravidez de gêmeas—, o mesmo não se aplica ao colega paulista.

Com seu novo funk, “Fazer Falta”, Livinho promete disputar com o “tiro” de Jojo o título de hit do Carnaval 2018.

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A funkeira Jojo Todynho, do hit ‘Que Tiro Foi Esse?’

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