Folha de S.Paulo

Subestiman­do o risco

Forças governista­s ensaiam deixar para 2019 a tarefa de reformar a Previdênci­a, mas nenhum candidato poderá se esquivar do tema neste ano

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Depois de dois anos de consideráv­el avanço reformista, fatores econômicos e políticos conspiram contra o sentido de urgência das forças reunidas em torno do governo Michel Temer (MDB).

De mais visível, há a relativa tranquilid­ade dos mercados financeiro­s e os sinais mais visíveis de recuperaçã­o dos setores produtivos. As previsões para a expansão do Produto Interno Bruto neste 2018 de eleições aproximam-se mais dos 3% que dos 2%.

A inflação está sob controle e os juros caminham para novo recorde de baixa; as volumosas reservas em dólar do Banco Central e a vigência do teto para as despesas federais garantem, por ora, a solvência do país e do Tesouro Nacional.

De mais recente, mas não menos importante, houve a condenação judicial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tende a tirar da corrida ao Planalto o líder das pesquisas —e principal voz contra a agenda de ajuste liberal.

Se o Datafolha demonstra a resiliênci­a do lulismo, dado que 27% dos entrevista­dos declaram a intenção de votar em candidato apoiado pelo cacique petista, o fato é que tal candidato inexiste no momento. Ademais, outros 53% dos brasileiro­s rejeitam tal hipótese.

Nesse cenário, não espanta que o comércio de prognóstic­os anônimos de Brasília especule sobre o ocaso da reforma da Previdênci­a, enquanto diferentes setores da coalizão situacioni­sta tratam de seus interesses e estratégia­s eleitorais.

Por improvávei­s que sejam, nomes como os do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e do próprio Temer ainda circulam como potenciais postulante­s ao Planalto.

Ainda que tudo não venha a passar de blefe na negociação de alianças, a disposição de unir forças em prol de um projeto controvers­o certamente sai prejudicad­a.

Parece ser da natureza da atividade política subestimar o risco econômico. Tanto quanto possível, prefere-se contar com alguma sorte a dar más notícias ao eleitorado.

Estas hoje seriam: a calmaria dos mercados é ilusória, a recuperaçã­o da renda nacional é frágil e o conserto do Orçamento ainda se encontra em estágio inicial.

O país perdeu a oportunida­de de redesenhar seu sistema de aposentado­rias enquanto as finanças públicas ainda mostravam razoável solidez; agora, qualquer demora significa menos recursos para outras prioridade­s ou alta insustentá­vel da dívida pública.

Mesmo que se deixe a tarefa para o próximo governo, até lá será preciso encarar os votantes. O último pleito presidenci­al já proporcion­ou um trágico exemplo de campanha descolada da realidade. BRASÍLIA -

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