Agravantes e atenuantes da imbecilidade
Minha questão aqui é que a ninguém a imbecilidade é alheia, não há quem esteja imune. E muita gente malintencionada quer aumentá-la
“Os imbecis perderam a modéstia”; “Os idiotas vão dominar o mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos.”
As famosas frases de Nelson Rodrigues constatam uma triste realidade da espécie. Não à toa o primeiro-ministro britânico Winston Churchill disse que a democracia era o pior dos regimes (com exceção de todos os outros).
Queixar-se da imbecilidade humana, porém, é como queixar-se da chuva: é um dado da natureza e não há nada a fazer, exceto proteger-se dela.
Minha questão aqui é que a ninguém a imbecilidade é alheia, não há quem esteja imune a ela; todo Einstein tem seu momento de Eremildo, o personagem idiota do colunista da Folha Elio Gaspari. O que quero comentar são os fatores que agravam a imbecilidade, e os que a atenuam, para que todos nós possamos lidar melhor com ela.
Você pensará que “lidar melhor com ela” visa apenas atenuá-la, mas não; eu acredito que há muita gente mal-intencionada querendo aumentá-la. Se não, como explicar o descalabro da educação pública?
Afinal, a educação é o pilar da busca da igualdade de oportunidades; é o que transformou a Coreia do Sul em potência econômica em poucas décadas. Em nossa terra, todavia, é entregue às baratas.
Deve haver muito político temendo um povo esclarecido, preferindo pobres mendigando por uma bolsaesmola a troco de votos…
A chave psicológica do aumento/ diminuição da imbecilidade está na capacidade humana de reflexão/reação. Se somos induzidos à reatividade, nossa burrice aumenta. Se temos espaço para a reflexão, cresce nossa inteligência.
É verdade que nossa espécie não teve muito estímulo para a reflexão em suas origens: imagine um ancestral nosso na savana africana vendo um bando de amigos em correria. Se ele parasse para refletir sobre o pânico público, provavelmente teria sido devorado por um predador, não deixando descendentes.
A reatividade de sair correndo junto aos amigos salvou sua vida. A filosofia teve mais chance de existir quando o grego clássico pôde tranquilamente conversar e refletir com seus pares na Ágora.
Eis que nesse cenário acima está o que determina a reatividade e o que possibilita a reflexão: sentir-se —ou não— ameaçado; precisar — ou não— se defender. De fato, todos os mecanismos de defesa psíquicos são emburrecedores.
Tomemos apenas a negação como exemplo: todos nós estamos fadados a morrer. A morte e os impostos são as duas únicas certezas da vida. Agora considere a quantidade de energia que a humanidade investe na negação da morte.
Considere o aluguel mental que isso traz, todas as derivações dessa negação (Galileu e a rejeição ao heliocentrismo, por exemplo), e você terá uma pálida ideia da influência emburrecedora dos mecanismos de defesa.
Para um exemplo mais recente, considere os nossos “debates” políticos. Há espaço para reflexão neles? Todos se ocupam de atacar o oponente por meio dos piores adjetivos, pois sabemos que “a melhor defesa é o ataque”. Claro, todos estão sob a ameaça dos rótulos horríveis que cada parte lhes lança. As- sim, só fazem reagir. É a imbecilidade desfilando em toda sua glória.
Algo em âmbito mais próximo? Pense nas DRs (discussões de relação). A ameaça de rompimento, de desamparo, de perda de amor está tão presente que a reatividade defensiva impera —é por isso que não se vai muito longe nelas… Se elas começassem com uma declaração apaziguadora (“eu te amo e quero me entender bem com você”), as chances de reflexão seriam maiores.
Todas as doenças psíquicas — neuroses, psicoses, perversões, depressão, psicopatia— derivam de estarmos aprisionados a mecanismos de defesa contra as ameaças do mundo (i.e., do superego), e sabemos como elas nos reduzem a capacidade de raciocinar.
Eis porque adoro a conversa calma e amigável; o ambiente que acolhe e não acusa; a amizade que não pressupõe malícia da outra parte; a autoridade do saber, e não a de mando; a democracia parlamentar, e não a tirania. FRANCISCO DAUDT,
Folha
Diplomacia Em entrevista à Folha, Thorsten Benner especulou que a China influenciaria as eleições no Brasil, afirmações que, com ignorância e arrogância, carecem da devida seriedade (“Pesquisador vê risco de influência da China no Brasil”, Mundo”, 1°/2). A China insiste em desenvolver parcerias com os demais países sem interferir nos assuntos internos. O investimento chinês no Brasil é feito sempre de acordo com as regras do mercado e as leis brasileiras. O destino do Brasil está nas mãos do seu povo. De forma alguma iremos influenciar o processo eleitoral brasileiro.
QU YUHUI,
Municipal do Rio Fernando Bicudo põe em questão meus conhecimentos musicais —eu, que sou professor da escola de música da UFRJ com mestrado em canto (“‘Municipal tinha preço de teatro de shopping’”, “Ilustrada”, 31/1). Dizer que desconheço balé? Sou frequentador assíduo, embora não seja profissional, da dança, mas por isso há diretor-artístico do balé (Ana Botafogo e Cecilia Kerche) e o teatro conta ainda com maestro da orquestra e divisões de música. Não sei o motivo de Bicudo perder comigo o precioso tempo que deveria usar para montar uma programação alternativa à que deixei.
ANDRÉ HELLER-LOPES,
O artigo de Manuela D’Ávila vai bem ao chamar a atenção para que os governantes entrem nas brigas no lado dos nossos verdadeiros interesses industriais e comercias (“Boeing, Bombardier e o Brasil”, “Tendências / Debates”, 5/2). Cai na chanchada política quando acusa o governo de desindustrialização do país. Quem cometeu esse desastre foi o câmbio sobrevalorizado dos últimos 12 anos, que serviu para financiar o consumo, somado à ausência de reformas que fizessem do Brasil um país competitivo —e que estão sendo propostas. Torcer a realidade não muda os fatos.
VINICIUS LUMMERTZ,
Combate ao Aedes Sobre a carta de Ricardo de Macedo (“Painel do Leitor”, 4/2) a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo explica que não houve redução nas ações de combate a mosquitos em 2017. O corte de gastos da Vigilância em Saúde ocorreu devido à renegociação de contratos de aluguel de imóvel e de veículos. As ações de rotina de combate a mosquitos se mantiveram. Não é correto relacionar o combate ao Aedes com a febre amarela, já que a circulação da doença se dá, hoje, pela transmissão silvestre, em locais de mata —e não urbana.
SHIRLEY NARA,