Folha de S.Paulo

Presidente do TJ diz que recebe auxílio e que valor ‘é pouco’

Ajuda para moradia é ‘salário indireto’, defende Manoel Calças ao assumir Tribunal de Justiça de São Paulo

- GÉSSICA BRANDINO

Desembarga­dor criticou cobertura da Folha sobre o tema e afirmou que não considera antiético ter benefício

Após assumir a presidênci­a do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), nesta segunda-feira (5), o desembarga­dor Manoel de Queiroz Pereira Calças disse que recebe auxílio-moradia mesmo tendo imóvel na capital e que o valor “é pouco”.

“Auxílio-moradia é previsto na lei da magistratu­ra nacional, ‘ponto’”, afirmou a jornalista­s. Ele disse também possuir “vários imóveis, não só um”. Segundo levantamen­toda Folha, ele tem ao menos um imóvel nos Jardins, região nobre de São Paulo.

O desembarga­dor disse ainda que não considera a atitude antiética, porque o auxílio funcionari­a como um salário complement­ar. “Na verdade, o auxílio-moradia é um salário indireto”, afirmou.

“Ele tem o nome de auxílio porque na Lei Orgânica da Magistratu­ra é previsto como tal e tem uma decisão da Suprema Corte que está prevendo para todos os juízes.”

“Se ele [magistrado] quiser [abrir mão], pode. Cada um tem que agir com a ética que entende que é adequada”, disse o desembarga­dor. Questionad­o se acha justo o valor do auxílio-moradia —de R$ 4.378 mensais—, respondeu: “Eu acho muito pouco”.

O magistrado também criticou reportagem da Folha de domingo (4) que mostrou que quase metade dos juízes da cidade de São Paulo que recebe auxílio-moradia tem casa própria na capital. O desembarga­dor não foi citado pelo levantamen­to.

Calças saiu em defesa do desembarga­dor José Antonio de Paula Santos Neto, que foi mencionado na reportagem por ter 60 imóveis registrado­s em seu nome e recebe o auxílio-moradia e disse que um dos imóveis mostrados na reportagem é herança de família. Ele questionou “o risco que os filhos dele vão correr depois que tiraram a foto”.

O novo presidente do tribunal chamou a cobertura de abusiva, comparando-a ao caso da Escola Base, de 1994, em que os donos de uma escola particular foram injustamen­te acusados de pedofilia pela imprensa —depois ficou provado que eram inocentes. “Tanto o jornalista quanto o juiz tem que ter ética”, disse.

Num discurso de cerca de 40 minutos, o desembarga­dor defendeu a ética e a mo- PRISÃO Durante o evento, o novo presidente do TJ-SP defendeu ainda o cumpriment­o da prisão após decisão em segunda instância, tema que voltou ao debate após a confirmaçã­o da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo TRF-4 no caso tríplex.

Calças disse que no “mundo inteiro” a presunção de inocência “implica duplo grau de jurisdição”, o que também se justifica pelo fato de não ser possível analisar as provas em instâncias superiores.

“Eu sou a favor de que qualquer condenado, após o duplo grau de jurisdição, comece a cumprir a pena”, afirmou.

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