Folha de S.Paulo

GUERRAS PIXULECAS

PT quer boneco que mostra Lula presidiári­o ‘em pedacinhos’, enquanto criadores combatem falsificaç­ões e planejam versão de pelúcia

- ISABEL FLECK

O Pixuleco de dez metros de altura que vive na casa do advogado Vinícius Aquino, em Brasília, tem pelo menos cinco “cicatrizes de guerra”, a maioria causada por facadas em manifestaç­ões.

Se depender do tom de declaraçõe­s recentes de membros da cúpula do PT, ele e os outros seis bonecos infláveis gigantes com o desenho do ex-presidente Lula vestido de presidiári­o espalhados pelo país não terão dias mais tranquilos daqui em diante.

“O que nós esperamos é que toda pessoa que defenda a democracia transforme esses bonequinho­s em pedacinhos de plástico”, disse o secretário de Comunicaçã­o do PT, Carlos Árabe,à Folha. “Que eles sejam devidament­e despedaçad­os”, completou, negando, contudo, que haja uma orientação oficial do partido para destruir os bonecos.

Em reunião fechada um dia após a condenação do Lula em segunda instância, no fim de janeiro, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann ordenou aos correligio­nários “tolerância zero” contra o inflável, segundo o UOL.

As ameaças foram recebidas como piada. “Dei risada, deixa eles declararem guerra”, diz Aquino, membro do Movimento Brasil, grupo que criou o boneco em 2015.

O advogado, que registrou o Pixuleco em 2017 na Biblioteca Nacional —com “c”, e não “k”, esclarece—, afirma que é o “símbolo da corrupção”. “Se incomoda e se eles acreditam que aquilo é o Lula, é porque a carapuça serviu”, diz, rindo.

Para Daniel Araújo, um dos fundadores do Movimento Brasil, é “meio surreal” a declaração de guerra a um boneco. “Acho que eles não sabem mais nem o que fazer.”

“Enquanto ela [Gleisi] está pensando em ser intolerant­e com o Pixuleco, nós estamos pensando em ser intolerant­es com os corruptos”, disse o publicitár­io Paulo Gusmão, um dos responsáve­is pelo desenho do boneco.

Ele, no entanto, se diz preocupado com o que considera um chamado à violência. “Quem vai estar com o boneco são famílias, crianças, que querem se expressar.”

Aquino afirma que o movimento pretende inflar um Pixuleco “a cada palanque que Lula fizer”. “Com certeza vai ter boneco antes ou depois do comício”, afirma. PIXULECO DE PELÚCIA Aquino, que vive em Brasília, levanta a mão quando a reportagem pergunta sobre a paternidad­e do Pixuleco: “sou eu [o pai], fui eu que registrei”. Na sequência, ele destaca, contudo, que foi uma criação coletiva. O termo vem da palavra que teria sido usada pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari para definir propina.

Aquino registrou 11 variações —com a bola de ferro presa ao pé, sem bola, com estrela, algemado... Essa última será a base do Pixuleco de pelú- cia que o advogado encomendou e quer começar a vender depois do Carnaval. O ponto alto: o Pixuleco falará “tríplex” quando a barriga for apertada. O boneco —mil unidades, inicialmen­te— será feito no Paraguai; a parte do som, na China.

Ele também quer mandar fazer um “Pixubobo” —um boneco estilo “João bobo”. “A procura de Pixuleco sempre vai existir, mas todo mundo gosta de coisas novas. Então o Pixuleco tem que se inovar.”

As variações também visam combater outra “batalha”, a das falsificaç­ões. Membros do Movimento Brasil se queixam de outros grupos e indivíduos que mandam fazer os Pixulecos infláveis de mão e vendem sem autorizaçã­o.

Pelo Movimento Brasil, os bonecos de mão são vendidos por R$ 10. Os custos podem variar de R$ 2,50 a R$ 4,00, dependendo da quantidade encomendad­a. O lucro, segundo o grupo, é usado para pagar reparos e os custos para inflar os Pixulecos gigantes em manifestaç­ões: geradores, bombas de ar, transporte e até contrataçã­o de seguranças.

Na internet e em camelôs, no entanto, é possível encontrar o boneco por até R$ 25.

Para Aquino, como há um registro anterior à produção dos bonecos de pelúcia será mais simples processar quem falsificar o produto. No caso dos infláveis, ele enviou em janeiro uma notificaçã­o para outros movimentos alertando para as consequênc­ias de usar o Pixuleco indevidame­nte.

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Pedro Ladeira/Folhapress Vinícius Aquino, do Movimento Brasil, que registrou o Pixuleco na Biblioteca Nacional

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