GUERRAS PIXULECAS
PT quer boneco que mostra Lula presidiário ‘em pedacinhos’, enquanto criadores combatem falsificações e planejam versão de pelúcia
O Pixuleco de dez metros de altura que vive na casa do advogado Vinícius Aquino, em Brasília, tem pelo menos cinco “cicatrizes de guerra”, a maioria causada por facadas em manifestações.
Se depender do tom de declarações recentes de membros da cúpula do PT, ele e os outros seis bonecos infláveis gigantes com o desenho do ex-presidente Lula vestido de presidiário espalhados pelo país não terão dias mais tranquilos daqui em diante.
“O que nós esperamos é que toda pessoa que defenda a democracia transforme esses bonequinhos em pedacinhos de plástico”, disse o secretário de Comunicação do PT, Carlos Árabe,à Folha. “Que eles sejam devidamente despedaçados”, completou, negando, contudo, que haja uma orientação oficial do partido para destruir os bonecos.
Em reunião fechada um dia após a condenação do Lula em segunda instância, no fim de janeiro, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann ordenou aos correligionários “tolerância zero” contra o inflável, segundo o UOL.
As ameaças foram recebidas como piada. “Dei risada, deixa eles declararem guerra”, diz Aquino, membro do Movimento Brasil, grupo que criou o boneco em 2015.
O advogado, que registrou o Pixuleco em 2017 na Biblioteca Nacional —com “c”, e não “k”, esclarece—, afirma que é o “símbolo da corrupção”. “Se incomoda e se eles acreditam que aquilo é o Lula, é porque a carapuça serviu”, diz, rindo.
Para Daniel Araújo, um dos fundadores do Movimento Brasil, é “meio surreal” a declaração de guerra a um boneco. “Acho que eles não sabem mais nem o que fazer.”
“Enquanto ela [Gleisi] está pensando em ser intolerante com o Pixuleco, nós estamos pensando em ser intolerantes com os corruptos”, disse o publicitário Paulo Gusmão, um dos responsáveis pelo desenho do boneco.
Ele, no entanto, se diz preocupado com o que considera um chamado à violência. “Quem vai estar com o boneco são famílias, crianças, que querem se expressar.”
Aquino afirma que o movimento pretende inflar um Pixuleco “a cada palanque que Lula fizer”. “Com certeza vai ter boneco antes ou depois do comício”, afirma. PIXULECO DE PELÚCIA Aquino, que vive em Brasília, levanta a mão quando a reportagem pergunta sobre a paternidade do Pixuleco: “sou eu [o pai], fui eu que registrei”. Na sequência, ele destaca, contudo, que foi uma criação coletiva. O termo vem da palavra que teria sido usada pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari para definir propina.
Aquino registrou 11 variações —com a bola de ferro presa ao pé, sem bola, com estrela, algemado... Essa última será a base do Pixuleco de pelú- cia que o advogado encomendou e quer começar a vender depois do Carnaval. O ponto alto: o Pixuleco falará “tríplex” quando a barriga for apertada. O boneco —mil unidades, inicialmente— será feito no Paraguai; a parte do som, na China.
Ele também quer mandar fazer um “Pixubobo” —um boneco estilo “João bobo”. “A procura de Pixuleco sempre vai existir, mas todo mundo gosta de coisas novas. Então o Pixuleco tem que se inovar.”
As variações também visam combater outra “batalha”, a das falsificações. Membros do Movimento Brasil se queixam de outros grupos e indivíduos que mandam fazer os Pixulecos infláveis de mão e vendem sem autorização.
Pelo Movimento Brasil, os bonecos de mão são vendidos por R$ 10. Os custos podem variar de R$ 2,50 a R$ 4,00, dependendo da quantidade encomendada. O lucro, segundo o grupo, é usado para pagar reparos e os custos para inflar os Pixulecos gigantes em manifestações: geradores, bombas de ar, transporte e até contratação de seguranças.
Na internet e em camelôs, no entanto, é possível encontrar o boneco por até R$ 25.
Para Aquino, como há um registro anterior à produção dos bonecos de pelúcia será mais simples processar quem falsificar o produto. No caso dos infláveis, ele enviou em janeiro uma notificação para outros movimentos alertando para as consequências de usar o Pixuleco indevidamente.