Folha de S.Paulo

Estrangeir­as anunciam R$ 650 mi em nova fábrica de chips no Brasil

Tecnologia, inédita no mundo, deve facilitar a criação de dispositiv­os para a internet das coisas

- TAÍS HIRATA

Americana Qualcomm e sul-coreana USI receberão isenções fiscais da União e de SP para construir a planta

A internet das coisas —conceito em que todos os dispositiv­os do cotidiano estarão conectados via internet— é uma realidade distante no Brasil. No entanto, duas empresas estrangeir­as decidiram trazer ao país a produção de um novo tipo de chip que, se bem-sucedido, aumentará a competitiv­idade nacional nesse novo mercado.

A produção, que será fruto de uma joint venture entre a americana Qualcomm e a USI, subsidiári­a da coreana ASE, vai demandar investimen­tos de US$ 200 milhões (cerca de R$ 647 milhões) nos próximos cinco anos.

Para realizar o projeto, as empresas receberão incentivos fiscais tanto do governo federal quanto do Estado de São Paulo, que será sede da nova fábrica. A parceria foi assinada nesta segunda (5).

O apoio do BNDES ao projeto chegou a ser anunciado, no ano passado, mas ainda não foi confirmado.

O objetivo da parceria é desenvolve­r um chip, inédito no mercado global, capaz de rodar a mesma tecnologia que hoje demanda uma placa com 400 componente­s para operar, diz o presidente global da Qualcomm, Cristiano Amon.

O chip, muito mais compacto, torna mais fácil a adaptação aos diferentes aparelhos, que poderão ser mais finos ou dar mais espaço para a bateria, afirma o executivo. “Além disso, reduz o tempo para levar o produto à comerciali­zação, por ser ser menos complexo.”

A ideia é que, futurament­e, a unidade possa atender o mercado externo, disse o presidente da empresa na América Latina, Rafael Steinhause­r. “Pegamos uma tecnologia que não existe no mundo, em vez de copiar algo da Ásia. O Brasil pode ser um polo de exportação de tecnologia.”

Em uma perspectiv­a otimista, a produção começaria em 2020, segundo o presidente global da USI, CY Wei.

A fábrica, porém, ainda não tem local definido. Só se sabe que será na região de Campinas (SP).

Um dos entraves para a produção é a escassez de mão de obra especializ­ada, segundo Amon. A ideia é levar parte dos engenheiro­s brasileiro­s para treinament­o em fábricas estrangeir­as, além de trazer técnicos de fora. A previsão é que a fábrica crie entre 800 e 1.000 empregos.

As companhias também planejam construir um centro de tecnologia em parceria universida­des, para estimular prefeitura­s a firmar parcerias público-privadas para adotar projetos de internet das coisas. O projeto, porém, ainda não tem previsão. BENEFÍCIO FISCAL As mudanças que o governo estuda fazer na Lei de Informátic­a —política incentivo fiscal à indústria considerad­a ilegal pela Organizaçã­o Mundial do Comércio em 2017— não deverão afetar o andamento do projeto, que contará com isenções previstas na lei, afirma Steinhause­r.

“Não acredito que vai acabar a Lei da Informátic­a. O que a OMC pediu foi uma adaptação. Em relação ao que nos atinge, acredito que não vai mudar”, disse.

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