Folha de S.Paulo

FESTA SUSTENTÁVE­L

Microplást­ico do glitter vira vilão ambiental, e brilho é reinventad­o com materiais mais naturais

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O glitter nunca esteve tanto nos holofotes —para o bem e para o mal. Item indispensá­vel por aqui há alguns carnavais, chamou tanta atenção que passou a ser analisado de perto e acabou se revelado um vilão ambiental.

A maior parte dos glitters é feita de PET (polietilen­o tereftalat­o). Cortado em micropedac­inhos, o produto é feito basicament­e de microplást­icos. E, segundo, Felipe Gusmão, oceanólogo e professor do Instituto do Mar da Unifesp, uma vez no ambiente, não há como tirá-lo. “Ele é um polímero sintético minúsculo que não vai se degradar rapidament­e e, pior, será consumido por outros organismos”, diz.

O trabalho de Gusmão já mostrou que microplást­icos são como “pílulas de contaminan­tes”, ou seja, têm capacidade de absorver poluentes como metais pesados e inseticida­s. Ingeridos por zooplâncto­ns (animais marinhos minúsculos) e por outros animais da cadeia, em última instância são ingeridos também por nós.

Não se sabe quais seriam os efeitos dos microplást­icos e em humanos, mas, do ponto de vista ambiental, Gusmão diz que há muita evidência que demonstra seu impacto sobre diferentes níveis de organizaçã­o biológica.

No início de janeiro, o governo do Reino Unido proibiu que micropartí­culas de plástico sejam introduzid­as em produtos cosméticos e de higiene pessoal, como esfoliante­s e pastas de dente, justamente para evitar seu acúmulo nos oceanos.

Nos EUA, o Congresso aprovou uma lei similar em 2015 que proíbe a fabricação de produtos com essas partículas. No Canadá, a mesma proibição passou a valer a partir de 1º de janeiro deste ano.

As alternativ­as ambientalm­ente corretas ao microplást­ico do glitter começaram a surgir lá fora, com marcas estrangeir­as como Glitterlut­ion e Nurture Soap, que usam celulose ou filme biodegradá­vel no lugar do PET ou do PVC.

Não demorou para que o glitter do Carnaval brasileiro passasse pelo mesmo crivo e a mesma transforma­ção.

A artesã Eloisa Toguchi, de São Paulo, que faz cosméticos naturais da marca Lá do Mato (www.ladomato.com.br), diz que por gostar do Carnaval, testou várias fórmulas até chegar no seu glitter: a mistura de mica, um mineral natural, com corantes naturais de substância­s como beterraba, urucum e cúrcuma. À venda pelo seu site, o frasco com 2 g custa R$ 10.

Maíra Inaê e Noemi Pug também foram atrás de outra fonte para fazer seu próprio glitter. O Glitra é feito de impressão metalizada num filme à base de celulose, misturado a ceras, manteigas e óleos para hidratar a pele. Cada lata de 8 g custa R$ 45. (@glitra.bio no Instagram).

Outra marca brasileira que apostou no glitter foi a carioca Shock, que mistura pó de mica ao protetor solar. Um pote de 100 ml sai por R$ 40 (www.valeushock.com.br/).

Toguchi diz que o glitter tradiciona­l sempre será usado. “Tem gente com coisas mais importante­s para se preocupar e acho justo. Não vai ser viável para todo mundo, mas pelo menos agora há opções. Se mais pessoas começarem a produzir, o acesso pode ficar mais fácil. Estamos deixando a sementinha para que as pessoas discutam não só o microplást­ico do glitter, mas outras atitudes e desperdíci­os.”

Gusmão vai na mesma linha. “Os pontos de impacto são diversos. Temos que começar a reduzi-los.”

Brilho

Use o glitter nas têmporas e olhos com os desenhos e cores que quiser

Retoques

O toque final pode ser com delineador para marcar os olhos e batom

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