Promotoria pede investigação de tumulto no clube
No momento em que luta para se capitalizar, a Caixa Econômica Federal ameaça executar as garantias do empréstimo para a construção do estádio Arena Corinthians, decisão que o clube paulista tenta reverter.
A dívida do Corinthians com o banco está em mais de R$ 1 bilhão (o empréstimo inicial foi de R$ 400 milhões), e entre as garantias está o Parque São Jorge, onde está a sede social do clube e o estádio conhecido como Fazendinha.
Segundo a Folha apurou, a nova diretoria do clube alvinegro procurou o banco nesta segunda-feira (5) para tentar reduzir a chance de execução das garantias.
Procurada, a Caixa afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não comentaria o tema.
Conforme reportagem publicada pela Folha, a Caixa avaliou como grande a possibilidade de levar calote do Corinthians no acordo de pagamento pelo empréstimo para a construção do estádio inaugurado em 2013 e construído para receber a abertura da Copa do Mundo de 2014.
O clube recebeu do banco uma das piores notas na avaliação interna de riscos, segundo e-mails confidenciais, aos quais a reportagem teve acesso, em auditoria externa realizada pelo escritório Pinheiro Neto Advogados e agora em posse do Ministério Público Federal.
A estatal classificou o clube com a nota “E”, com “capacidade para arcar com o compromisso bastante limitada”, em análise sobre a proposta de reestruturação da operação de crédito da arena.
A troca de mensagens debate sobre um eventual acordo para a volta do pagamento das parcelas pelo empréstimo de R$ 400 milhões feito para a construção do estádio corintiano, por meio de recursos do programa do BNDES Pró-Copa Arenas.
A Caixa também se mostrou incomodada com o negócio. “A proposta advém de um cenário de constantes frustrações e descumprimentos no âmbito da operação (...), não estão sendo atendidas as premissas de receitas, custos e despesas (...), fica evidente que o fluxo de caixa atual do projeto será incapaz de honrar com os compromissos financeiros da Arena”. CAPITALIZAÇÃO A negociação acontece em meio à necessidade de capitalização pela Caixa. O banco precisa de cerca de R$ 6 bilhões neste ano para se enquadrar dentro das regras de instituições financeiras mais sólidas para assumir riscos.
A cúpula do banco, mantendo o plano estabelecido ainda no ano passado, descarta o uso de qualquer ajuda financeira externa, como repasse do Tesouro Nacional ou do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).
O plano de contingência, já aprovado, traça como fontes de recursos para atingir os R$ 6 bilhões uma emissão externa de bônus, a venda de carteiras atraentes e a preservação de uma política mais rígida na distribuição de dividendo aos acionistas, no caso, o governo federal.
A estratégia do Corinthians é renegociar a dívida e tentar alongá-la por mais tempo, aumentando o número de parcelas. O deputado federal Andrés Sanchez (PT-SP) foi eleito presidente do clube no último sábado (3). Nesta segunda, ele estava no Rio para reunião do conselho arbitral do Campeonato Brasileiro.
Sanchez entregou a negociação da dívida do estádio para Luis Paulo Rosenberg, um dos idealizadores do projeto do Itaquerão que acabou saindo do papel, apesar da oposição da Odebrecht.
A construtora era favorável a um estádio mais modesto, mas prevaleceu a força política do Corinthians na época da construção.
DE SÃO PAULO
O promotor Paulo Castilho, do Juizado Especial Criminal, pediu a abertura de inquérito para investigar a confusão ocorrida após a eleição para presidente do Corinthians, no último sábado (3).
Após o anúncio da vitória de Andrés Sanchez, torcedores tentaram agredilo. O dirigente teve de ficar fechado no banheiro feminino do ginásio do Parque São Jorge. Depois foi escoltado por guarda-costas até o estacionamento sob ameaças de integrantes de torcidas organizadas.
O repórter Flavio Ortega, da ESPN Brasil, foi um dos agredidos.
“Temos informações de que eles [os torcedores] entraram no clube usando violência e não deveriam estar ali. Pedimos as imagens para fazer a identificação”, afirma o promotor.
Segundo assessores de Sanchez, a ação foi premeditada por integrantes de uma dissidência da Gaviões da Fiel chamada “rua São Jorge” (mesmo endereço do Parque São Jorge).
“Recebemos telefonemas pedindo providências contra os invasores, alguns pertencentes a torcidas organizadas”, diz Castilho.