Arquitetura e urbanismo motivam reflexões geopolíticas de artista
Espaço Cultural Porto Seguro inaugura exposição com obras de Carlos Garaícoa na terça (6)
Trabalho aborda questões da sua terra natal, Cuba, além de lugares como Alemanha sob regime nazista
Uma miniatura do Banco do Brasil banhada em ouro é disposta dentro de um cofre. Denominada “Saving the Safe” (salvando o cofre), a obra integra a mostra “Ser Urbano”, de Carlos Garaicoa.
Ocupando três ambientes do Espaço Cultural Porto Seguro, a exposição aborda relações entre geopolítica e sociedade por meio da arquitetura e urbanismo.
No caso da miniatura do banco, Garaicoa explica que a obra partiu da vontade de discutir as crises geradas pelo mercado financeiro.
Na exposição, apenas a instituição brasileira é retratada; entretanto ela faz parte de uma série da qual fazem parte bancos de outros países, como Espanha e Estados Unidos.
Cubano radicado em Madri, Garaicoa não retratou sua terra natal nessa série. A ausência, explica, se dá pelo simples motivo de que “em Cuba o problema é tão profundo que não se faz uma discussão sobre a economia”.
Na primeira parte da exposição, encontram-se duas obras —a videoinstalação “Abismo” e a maquete do edifício da Haus der Kunst (casa da arte) de Munique —que propõem um diálogo sobre o regime nazista na Alemanha.
“Venho de um país autoritário”, explica ele. “É muito estranho que haja uma só pessoa com o poder do governo, coisa que aconteceu na Europa também, por isso encontrei outras formas para falar desse tema.”
No andar de cima, está em exibição a instalação “Partituras”, que conta com vídeos de 70 músicos de rua de diferentes países, recolhidos ao longo de dez anos.
Cuba aparece, em específico, na série “Fin del Silencio” (2010), composta de enormes tapeçarias que aludem a questões sociais do país.
Na série, o artista se apropria de nomes estampados em antigos estabelecimentos comerciais de Havana, em si já sugestivos, como “La Lucha” ou “Pensamiento”.
O artista imprime um tom crítico ao modificar esses nomes — “La Lucha”, por exemplo, se torna “La lucha es de todos” (a luta é de todos).
Garaicoa diz sentir “pressão” para que artistas se limitem a abordar somente aspectos de seus locais de origem.
Na mostra fica evidente que ele pretende ampliar seu escopo para temas globais. Para ele, é importante poder participar de discussões sobre assuntos que lhe interessem, em qualquer lugar.
“Temos que ter liberdade de falar, por exemplo, do Brasil”, diz ele. “Quando conheci o Brasil, havia muita violência; depois veio um boom econômico que foi seguido de uma crise institucional”, lamenta o artista, que participou de Bienais de São Paulo em 1998, 2004 e 2010. ONDE Espaço Cultural Porto Seguro, al. Barão de Piracicaba, 610 QUANDO de 7/2 a 6/5; de ter. a sáb. das 10h às 19h, dom. e feriados das 10h às 17h QUANTO grátis
FOLHA
O que eu queria mesmo, diz um trecho do novo livro de Fabrício Corsaletti, era botar num poema o pote de manteiga onde o chapeiro da padaria enfia sua colher.
É um resumo do que o autor faz em “Perambule”, lançado agora, em busca do brilho das coisas pequenas. O volume traz 60 textos publicados em boa parte na Folha, onde o autor é colunista, além de inéditos.
São textos tanto de prosa quanto de poesia, mas Corsaletti define a edição como um volume de crônicas, um gênero literário fluido que pode se confundir com os demais gêneros.
Não é só a mistura de registros que nos permite chamar a edição de volume de crônicas. Estão lá as velhas características desse gênero: o interesse nas coisas prosaicas —veja aí a manteiga do chapeiro—, o tom de conversa na varanda, o falar sobre a morte da bezerra.
“Das prosas curtas, selecionei as que tinham algum jeito de crônica (humor, tema cotidiano etc.), deixando as mais poéticas, que também publiquei na revista ‘sãopaulo’, para um outro livro que estou escrevendo, só de prosas curtas e poemas em prosa”, diz o autor. OLHO DA RUA