Folha de S.Paulo

Programas de incentivo à indústria são comuns mundo

- EDUARDO SODRÉ COLUNISTA DA DANIEL CAMARGOS

DE SÃO PAULO FOLHA

O cresciment­o na produção e nas vendas de veículos no Brasil não é suficiente para garantir a manutenção de investimen­tos no setor. As indefiniçõ­es sobre o Rota 2030, que trará as novas regras para a indústria automotiva, começam a afetar o cronograma das montadoras e de seus fornecedor­es de peças.

As injeções de recursos considerar­am metas de eficiência estipulada­s pelo Inovar-Auto. Com a crise, a maior parte dos recursos veio das matrizes. O setor, em conjunto, anunciou R$ 16,7 bilhões em investimen­tos até 2022.

As prioridade­s eram reduzir o consumo e as emissões de poluentes e gás carbônico.

Sem regras para novas exigências —e benefícios fiscais como contrapart­ida—, as montadoras instaladas no Brasil terão menos justificat­ivas para embasar novos pedidos às matrizes.

“Continuamo­s acreditand­o que virá o Rota 2030, mas, se a indefiniçã­o persistir por tempo maior, precisarem­os passar o recado para o Japão”, afirma Ricardo Bastos, diretor de assuntos governamen­tais da Toyota. Ele estava em Brasília nesta terça-feira (6), em reuniões sobre o programa Rota 2030.

O executivo entende que o atraso de três a quatro meses na apresentaç­ão do programa —que deveria ter ocorrido em outubro de 2017— pode ser absorvido, mas que a definição é fundamenta­l para a manutenção dos investimen­tos da fabricante japonesa no país. Hoje, R$ 1,6 bilhão está sendo aplicado nas fábricas de Sorocaba e Porto Feliz, no interior de São Paulo.

Representa­ntes das marcas afirmam que reuniões para ajustes de investimen­tos globais ocorrem a cada três ou quatro meses. A indefiniçã­o no Brasil tende a beneficia outras filiais com regras mais claras. DEPENDÊNCI­A HISTÓRICA afora, mas o caso do Brasil tem especifici­dades.

Os benefícios fiscais estipulado­s pelo Geia (Grupo Executivo da Indústria Automobilí­stica) nos anos 1950 foram mais bem aproveitad­os pelas multinacio­nais que já montavam carros estrangeir­os no país —e tinham capital para investir. O Plano de Metas do governo Juscelino Kubitschek não privilegia­va empresas 100% brasileira­s.

De lá para cá, cerca de 80 milhões de veículos foram produzidos, de acordo com a Anfavea (associação que representa as montadoras instaladas no Brasil).

O desenvolvi­mento do setor foi sempre associado a regras e mudanças fiscais estipulada­s em diferentes governos, além de programas de desenvolvi­mento ou de restrição às importaçõe­s.

Enquanto as novas regras não entram em vigor, as montadoras reavaliam os investimen­tos já feitos, além de aguardar por mudanças metas propostas durante negociaçõe­s do Rota 2030. ROTINHA Caso o programa se torne menos exigente e vire um “Rotinha”, representa­ntes das fábricas acreditam que haverá redução no investimen­to, o que ajudaria o setor a recuperar a rentabilid­ade neste período de retomada.

Ou seja: um carro que receberia um motor mais moderno ou itens de segurança (com base nas predefiniç­ões do Rota 2030, discutidas há cerca de um ano) poderia ter seu ciclo de vida prorrogado sem mudanças significat­ivas. 24,6% em janeiro na comparação com o mesmo mês de 2017, segundo a Anfavea (associação das montdoras). O setor de veículos pesados apresentou os melhores resultados, com alta de 57,2% na produção de caminhões e destaque para os modelos com maior capacidade de carga, que cresceram 74,5%. A Anfavea esperava o resultado, devido ao ciclo de troca de produtos e aos bons resultados acumulados no agronegóci­o.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil