Time coreano unificado irrita atletas e faz aprovação de presidente cair
A batalhadora seleção de hóquei sobre o gelo feminina da Coreia do Sul trabalhou muito pelo direito de enfrentar oponentes mais experientes na Olimpíada de Inverno de PyeongChang, que começa nesta sexta-feira (9).
Mas os anos de esforço para criar união entre as jogadoras, que incluem duas norte-americanas, uma das quais se naturalizou como cidadã sul-coreana, foram frustrados quando o time nacional se tornou peão em um drama geopolítico mais amplo.
Em um gesto grandioso de diplomacia esportiva, os governos da Coreia do Norte e do Sul concordaram na semana passada em pôr no rinque uma equipe unificada para os Jogos de Inverno.
Embora o governo sul-coreano encare a equipe unificada como ponto de partida para negociações para desacelerar o programa nuclear do vizinho, as jogadoras sulcoreanas se declaram chocadas com a inclusão de jogadoras da Coreia do Norte.
“Todas nós tivemos de abrir mão de coisas em nossas vidas, mas estávamos batalhando por um objetivo: jogar na Olimpíada”, disse a goleira Shin So-Jung ao jornal “Chosun Ilbo”, na sexta (2).
“Nós suportamos tudo porque estávamos orgulhosas de representar nosso país. É por isso que nos sentimos tão arrasadas agora,” afirmou.
As Coreias também chegaram a acordo para que seus atletas marchem juntos, sob uma só bandeira, na cerimônia de abertura desta sexta.
Com o anúncio de que 12 atletas norte-coreanas seriam incluídas no time de hóquei, e que três delas teriam de ser escaladas a cada jogo, algumas das sul-coreanas temem perder tempo de jogo ou serem relegadas ao banco.
“É difícil porque as atletas conquistaram seus lugares na equipe e acham que merecem ir à Olimpíada”, disse Sarah Murray, treinadora da seleção sul-coreana. “As jogadoras declararam em junho que não queriam ver a equipe usada para fins políticos e que só queriam jogar”, acrescentou.
Dentro da Coreia do Sul, as críticas à decisão do governo de colocar uma equipe unificada no rinque abalou os índices de aprovação do presidente Moon Jae-In, que declarou apoio explícito à inclusão de atletas norte-coreanas.
De acordo com a mais recente pesquisa de opinião do Gallup, a aprovação caiu a 67%, o resultado mais baixo das últimas 16 semanas.
Petição de oposição à equipe coreana unificada, criada no site da Casa Azul, atraiu mais de 50 mil assinaturas.
A equipe sul-coreana ocupa o 22º lugar no ranking mundial, e muitas de suas integrantes acreditam que a decisão de incluir as norte-coreanas só foi tomada porque o trabalho delas não é respeitado. Ninguém pensou em integrar a seleção masculina.
Na semana passada, Lee Nak-Yeon, o primeiro-ministro sul-coreano, causou ira ao declarar que a equipe feminina não estaria na disputa por medalhas, de qualquer jeito. Ele mais tarde pediu desculpas pelo comentário.
Analistas disseram que a chance de criar um senso de unidade e facilitar o processo de paz é mais importante que a decepção das atletas.
“A insatisfação do público pelo fato de os sonhos olímpicos das jovens atletas estarem sendo sacrificados é uma declaração política de outro matiz, com o objetivo de solapar o processo de paz que ocorre paralelamente à Olimpíada de PyeongChang”, afirmou Chung Young-Chul, professor de psicologia do esporte na escola de pós-graduação em educação da Universidade Sogang, em Seul.
“As pessoas todas que estão reclamando o quanto é injusto elas terem de ceder seus lugares nem sabiam o que é hóquei sobre o gelo.”
Por enquanto, as integrantes sul-coreanas da equipe unificada fazem seus treinos finais antes da Olimpíada. O lema bordado em seus uniformes de treinamento diz “façam a Coreia se orgulhar”. PAULO MIGLIACCI.