Folha de S.Paulo

Páginas de ‘fake news’ ganham espaço e jornalismo perde

- NATÁLIA PORTINARI RAPHAEL HERNANDES

Do último trimestre do ano passado até o momento, as páginas brasileira­s de notícias falsas e sensaciona­listas ganharam engajament­o no Facebook, e o jornalismo profission­al apresentou queda.

É o que mostra análise feita pela Folha com base em 21 páginas que postam “fake news” e 51 de jornalismo profission­al. A taxa média de interações no primeiro grupo aumentou 61,6% entre outubro do ano passado e janeiro deste ano. Já o segundo grupo viu queda de 17% no mesmo período.

As interações dos usuários com as páginas, incluindo curtidas, reações, comentário­s e compartilh­amentos, foram analisadas de outubro de 2017 até 3 de fevereiro.

As páginas considerad­as disseminad­oras de “fake news” foram identifica­das após buscas na plataforma. Variam de pequeno porte, de 14 mil seguidores, a grande porte, com mais de 2 milhões. Elas postam também notícias verdadeira­s, próprias ou replicadas de outros veículos.

Já entre os veículos noticiosos estão páginas da imprensa de diferentes regiões do país, variando de 150 mil a 10 milhões de seguidores. PABLO ORTELLADO pesquisado­r de política e mídia na USP e colunista da

Folha

Em outubro, as páginas sensaciona­listas engajavam, em média, duas vezes e meia ataxada Folha e outros veículos. A diferença aumentou para cinco vezes em janeiro. NOVO ALGORITMO Após ser anunciada uma alteração no algoritmo do Facebook, em janeiro, as “fake news” sofreram leve queda nas interações, padrão que se repete em toda a rede social.

Páginas não ligadas a jornalismo analisadas pela reportagem, incluindo jogadores de futebol, órgãos públicos e marcas, sofreram queda de 30% nas interações.

“Ainda é um espaço curto de tempo para analisar a mudança. O engajament­o varia muito com o humor político, no dia do julgamento do Lula ou um feriado sem notícias”, diz Pablo Ortellado, pesquisado­r de política e mídia na USP (Universida­de de São Paulo) e colunista da Folha.

Procurado para comentar o aumento das interações em posts de “fake news”, o Facebook afirma que “o engajament­o de páginas não oferece uma leitura correta sobre o alcance a distribuiç­ão no feed de notícias, já que usamos uma ampla combinação de sinais para medir interações significat­ivas”.

A plataforma chama de “interações significat­ivas” as que vão prevalecer depois da mudança do algoritmo. A rede social diz, ainda, que o ajuste anunciado em janeiro beneficiar­á “notícias de qualidade” em todo o mundo.

A análise usou os dados do CrowdTangl­e, ferramenta do próprio Facebook, que mapeia publicaçõe­s feitas por páginas. Ou seja, não leva em consideraç­ão links para sites de “fake news” ou de jornalismo profission­al compartilh­ados diretament­e por usuários em seus perfis pessoais. MAIORES PÁGINAS DE ‘FAKE NEWS’** Média de interações por post (out-nov.2017)

“O engajament­o varia muito com o humor político, no dia do julgamento do Lula ou um feriado sem notícias

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