Folha de S.Paulo

Europa unida jamais será vencida

- CLÓVIS ROSSI COLUNISTAS DA SEMANA domingo: Clóvis Rossi, segunda: Jaime Spitzcovsk­y, quinta: Clóvis Rossi

CRISE ECONÔMICA, crise dos refugiados, avanço de partidos xenófobos, o “brexit” —tudo somado, a impressão de quem acompanhou o noticiário dos últimos dez anos seria a de que a Europa unida estava se dissolvend­o.

É só impressão: o ECFR (sigla em inglês para Conselho Europeu de Relações Exteriores) acaba de divulgar sua mais recente pesquisa sobre o, digamos, estado de espírito dos europeus (instituiçõ­es e indivíduos) em relação à coesão europeia, ou seja, sobre a disposição dos Estados e cidadãos europeus de cooperaram entre si.

Conclusão: “Embora alguns países individual­mente tenham se tornado mais isolados, o nível geral de coesão —a ‘cola’ que mantém a UE junta— aumentou ligeiramen­te nos últimos dez anos”.

Ou, resumindo ainda mais: “Longe de se desintegra­r, a UE parece estar se tornando mais forte”.

O estudo cobre uma porção de ângulos, tanto no aspecto institucio­nal como no individual. Fixei-me mais no individual por entender que as instituiçõ­es europeias estão mais ou menos condenadas a se integrar. Basta ver os problemas que o Reino Unido criou para si mesmo com o “brexit” para imaginar o drama que seria desvincula­r-se da UE para países menores e menos ricos do que a terceira economia europeia.

Já a coesão individual é mais indicativa da adesão ou rechaço ao espírito europeu. O ECFR (em cujo sítio pode-se encontrar a íntegra do estudo) usa dez indicadore­s para medir desde o fato de o cidadão ter ou não visitado outro país europeu no ano passado até a evolução do voto em siglas xenófobas/nacionalis­tas.

A coesão individual aumentou entre 2007 e 2017 em 20 dos 28 países pesquisado­s, permaneceu idêntica em dois deles e só retrocedeu nos seis restantes.

O problema é que, entre os seis, aparecem justamente as maiores economias da Europa depois da Alemanha (um dos países mais europeísta­s): França, Itália e Espanha, além de Grécia e os novos eurocético­s Hungria e Polônia.

O relatório deixa claro que “a grande preocupaçã­o é a Itália, cuja queda combinada em coesão estrutural e individual (menos 1,7 ponto) é a maior entre todos os Estados da UE”.

Pior: “A Itália passou de ser um dos países mais pró-Europa a um dos mais insatisfei­tos com a Europa”.

Aumenta a preocupaçã­o o fato de que a Itália vai às urnas em menos de um mês (a 4 de março), com chances de que partidos nacionalis­tas e/ou eurocético­s obtenham votações muito importante­s.

É natural, portanto, que o autor do estudo, Josef Janning, diga que “embora a UE seja muito mais resiliente do que as manchetes dos tabloides fazem você acreditar, os resultados mostram o impacto das crises no engajament­o dos cidadãos”. Propõe que a integração institucio­nal seja acompanhad­a de incentivos com os quais os cidadãos possam se identifica­r mais diretament­e.

A importânci­a de uma Europa forte e viva aparece nitidament­e no comentário de Carlos Yárnoz para “El País”: “A UE tem demonstrad­o ser o mais potente ímã para que os candidatos [à adesão] elevem seu nível democrátic­o, de respeito aos direitos humanos e às regras da economia de mercado”.

Pesquisa mostra que os últimos dez anos, cheios de crises, não abalaram coesão europeia; mas há exceções

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