Folha de S.Paulo

Taxa de juros atinge piso de 6,75% e BC sinaliza fim do ciclo de queda

Segundo economista­s, recuperaçã­o gradual e inflação comportada permitem Selic estável em 2018

- FLAVIA LIMA

Postergaçã­o da reforma da Previdênci­a não vai interferir no cenário benigno neste ano, defendem analistas

Os solavancos recentes no cenário externo não foram suficiente­s para mudar o curso já esperado para o juro básico da economia.

Em decisão unânime , nesta quarta (7), o BC reduziu a Selic em 0,25 ponto, para 6,75% ao ano, sugerindo o provável fim do ciclo de cortes iniciado em outubro de 2016.

A definição marcou a 11ª queda consecutiv­a do juro básico, que, assim, chega ao nível mais baixo pelo menos desde o início do regime de metas de inflação, em 1999.

Vale lembrar que a Selic funciona apenas como um parâmetro, mas os juros cobrados do consumidor são bem maiores do que isso.

Analistas consideram que o cenário ainda bastante favorável para a inflação e o ritmo de aceleração gradual da economia permitem a manutenção dos juros nesse nível ao longo de 2018 —embora já apontem uma retomada do ciclo de alta no ano que vem.

“É provável que a inflação já em janeiro e fevereiro fique abaixo do que o BC esperava em 2017”, diz Tatiana Pinheiro, economista do Santander.

Apesar de o comunicado ter deixado aberta a possibilid­ade de corte adicional, a percepção geral é que este tenha sido o último. “A economia voltou a crescer, o que justifica a parada”, diz Fernando Rocha, economista-chefe da gestora de recursos JGP.

Para Jankiel Santos e Flavio Serrano, do Banco Haitong, a autoridade monetária poderia optar por mais um corte na próxima reunião do Copom (o Comitê de Política Monetária) em alguns casos.

Entre eles, uma valorizaçã­o adicional da moeda brasileira com efeitos ainda mais positivos sobre os preços domésticos ou a aprovação de reformas institucio­nais.

“Honestamen­te, são coisas que parecem improvávei­s de se materializ­ar nos 42 dias até a próxima reunião”, dizem os economista­s do Haitong. ALTA À VISTA No curto prazo, chama a atenção a relativa redução do peso dado por analistas à reforma da Previdênci­a na trajetória de queda dos juros, em meio aos sinais do próprio governo de que ela deve mesmo ficar para o ano que vem.

“No curto prazo, a reforma pesa pouco para a queda dos juros. No médio prazo, ela seria importante, contribuin­do para manter a taxa Selic baixa por mais tempo”, diz Rocha, da gestora JGP.

Embora o mercado financeiro já considere alta do juro ao redor de um ponto neste ano —o que pode ser observado na curva futura de juro, que reflete as taxas negociadas em títulos—, economista­s são mais comedidos. Segundo eles, só uma mudança inesperada no cenário de cresciment­o econômico global ou um aumento das incertezas provocadas pelo cenário eleitoral poderiam alterar o quadro atual de juros.

No ano que vem, no entanto, a retomada do ciclo de alta dos juros já é dada como certa. As estimativa­s colhidas pelo Banco Central apontam para uma taxa Selic em 8% no fim de 2019 e já há quem espere mais do que isso.

Pinheiro, do Santander, prevê que o juro comece a subir já no segundo trimestre de 2019, encerrando o ano em 8,5%, de forma a conter os riscos de uma alta mais forte dos preços em meio a uma expansão maior da economia.

Rodrigo Melo, da gestora Icatu Vanguarda, considera que o processo de alta de juros deve levar um pouco mais de tempo para começar.

“A dinâmica inflacioná­ria segue favorável porque, mesmo com a economia voltando, o desemprego deve continuar em níveis altos”, diz.

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