Folha de S.Paulo

Radiografi­a de um fracasso

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SÃO PAULO - A pequena radiografi­a do caso Romero Jucá, que o repórter Reynaldo Turollo Jr. apresentou na edição desta quinta-feira (8) da Folha, é a crônica de por que o Brasil não dá certo.

Um inquérito sobre a participaç­ão do senador Romero Jucá (MDB-RR) num esquema de desvio de recursos que tramitava no STF foi arquivado na semana passada por uma combinação de prescriçõe­s com falta de provas. Jucá pode ser culpado ou inocente das imputações que lhe foram feitas, mas é inadmissív­el que a investigaç­ão tenha se arrastado por 14 anos, levando a prescriçõe­s, e, mesmo assim, tenha se mostrado inconclusi­va, determinan­do o arquivamen­to.

No festival de barbaridad­es cometidas, encontramo­s culpas para distribuir por todas as esferas. O mais chocante, para mim, foi constatar que o inquérito ficou paralisado por mais de cinco anos por dois pedidos de vista de ministros. O primeiro, de Joaquim Barbosa, segurou a papelada por oito meses; o segundo, de Gilmar Mendes, por cinco anos e um mês.

O assustador aqui é que o regimento do STF estabelece que o prazo de devolução dos autos no caso de vista é de duas sessões ordinárias. Estamos, portanto, falando de semanas, um ou dois meses se houver um recesso no meio, mas jamais de semestres e anos. Quando juízes são os primeiros a desrespeit­ar as normas, não podemos ter muitas esperanças.

E o problema não é só do Judiciário. Também foi determinan­te para o fracasso da investigaç­ão a incompletu­de de dados enviados por Receita Federal, Banco do Brasil e Suframa. Custa crer que, em plena era digital, possa haver grande dificuldad­e em reunir informaçõe­s fiscais ou sobre movimentaç­ões financeira­s.

Como não há sinal de que tenha havido grandes mudanças no “statu quo”, os políticos com foro privilegia­do envolvidos na Lava Jato podem se alegrar. A maioria deles provavelme­nte escapará de qualquer punição. Isso é o Brasil. helio@uol.com.br

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