Folha de S.Paulo

Gestão da segurança

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A partir da Constituiç­ão de 1988, passamos a descentral­izar boa parte dos serviços públicos. O cidadão, é sabido, mora nas cidades —e não na União— e nelas a transparên­cia das ações e o acesso aos governante­s tende a ser maior do que nos misterioso­s corredores de Brasília.

Entre as vozes que, à época, clamaram pela municipali­zação, estava a de Franco Montoro, que preconizav­a o princípio da subsidiari­edade: nada deveria ser feito no nível superior de governo se pudesse ser resolvido em níveis inferiores. Isso fazia todo o sentido, especialme­nte depois de anos de governo autoritári­o.

Na área da saúde, a Constituiç­ão foi cuidadosa e, ao descentral­izar a prestação de serviços, previu duas medidas importante­s: criou um sistema que integra ações de diferentes níveis, com um mecanismo claro de coordenaçã­o, e acabou com instituiçõ­es públicas paralelas que atendiam só os trabalhado­res formais, como o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

Não se trata, evidenteme­nte, de uma prestação de serviços ideal. As emergência­s de hospitais se encontram muitas vezes apinhadas de pessoas que não procuram centros de saúde, seja por não quererem se deslocar para realizar exames complement­ares, seja por reduzidas condições de atendiment­o, dada a falta de investimen­to ou boa gestão do equipament­o.

Mas o desenho institucio­nal e a boa prática de alguns municípios evidenciam o acerto do legislador. O mesmo, no entanto, não ocorreu com educação ou segurança.

Não foi previsto um sistema adequado que articulass­e a educação oferecida por governos municipais e estaduais. A União, até recentemen­te, não exercia um papel coordenado­r, a não ser na avaliação e em algumas ações pontuais.

Isso começou a ser mudado pelo exercício mais efetivo de um papel coordenado­r de Ministério da Educação, culminando na elaboração da Base Nacional Comum Curricular, na implementa­ção de importante­s programas e no uso do regime de colaboraçã­o entre Estados e municípios.

Mas em segurança, responsabi­lidade estadual, pouco foi feito para articular uma política nacional. Foram criadas a Força Nacional e alguns atos normativos, mas falta claramente um sistema único de segurança, o que dificulta não apenas a atuação mais efetiva das polícias como uma articulaçã­o com outras políticas públicas —como educação, desenvolvi­mento social e cultura— que poderiam ter um papel extremamen­te importante na prevenção do crime e na promoção de um convívio pacífico entre os moradores de cada território.

A alternativ­a a uma ação mais competente e integrada em segurança pública? Mais anomia, mais Emilys Sofia e Jeremias...

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