Estilo de Huck é o do PSDB, afirma FHC
Pressionado pela Globo, apresentador de TV deve definir até depois do Carnaval se será presidenciável este ano
Frases de estímulo do ex-presidente ao global irritam entorno de Alckmin, pré-candidato tucano ao Planalto
Às vésperas da decisão de Luciano Huck sobre sua eventual candidatura à Presidência, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o apresentador tem o estilo de seu partido, o PSDB.
“Ele sempre foi muito próximo ao PSDB, o estilo dele é peessedebista. É um bom cara”, afirmou à Folha FHC, que é uma espécie de padrinho informal da pré-candidatura desde o ano passado. Ele negou, contudo, ter falado sobre filiar Huck ao PSDB.
“Não sei se seria político. Não sei se vale a pena para ele. Meu candidato é Geraldo Alckmin”, disse, fazendo uma deferência ao governador paulista.
Nesta quinta (8), o tucano disse durante um evento em São Paulo ser normal o apreço entre o ex-presidente e global, que são amigos pessoais.
Nada disso aplacou a irritação do entorno do governador com FHC, que vem dando seguidas declarações simpáticas a Huck desde o ano passado, quando o definiu à Folha como “o novo”.
Huck, que deveria conversar na noite de quinta com FHC, deverá tomar a decisão sobre até depois do Carnaval.
Esse foi o prazo acertado com sua empregadora, a Rede Globo, que na quarta-feira lhe apresentou um ultimato para que decidisse se quer ou não entrar na disputa.
A emissora quer dissociar seu nome de uma eventual candidatura. Uma entrevista que Huck deu ao “Domingão do Faustão” em janeiro já rendeu a ele e à rede de TV explicação formal ao Tribunal Superior Eleitoral para negar que estivesse ocorrendo propaganda antecipada.
O filme não é novo. No ano passado, a pressão da rede e da família fizeram Huck escrever um artigo publicado na Folha no qual negava que pudesse concorrer.
O apresentador passou 2017 conversando com políticos e agentes de mercado. Montou um time que o assessora com pesquisas e entrou no movimento de renovação política Agora!, que deverá associar-se ao PPS e à Rede para lançar candidatos ao Congresso neste ano.
A expectativa entre aliados de Huck é de de uma mudança final de posição, a despeito de ter dito ao TSE que não tinha intenção de se candidatar a presidente.
A pressão sobre ele vem do fato de que ele poderia encarnar o “novo” numa eleição que ficou aberta com provável ausência de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), hoje barrado pela Lei da Ficha Limpa por ser condenado em segunda instância por corrupção, da urna eletrônica.
O desempenho fraco de Alckmin nas pesquisas, é outro motor do movimento: Huck e o tucano empatam em 8% no mais recente Datafolha em cenário sem Lula.
O PPS, que ofereceu a legenda a Luciano Huck, é seu porto natural. Em entrevista nesta semana à rádio Jovem Pan, na qual defendeu que o apresentador de TV iria “arejar a campanha”, FHC havia dito considerar a estrutura do partido insuficiente para disputas majoritárias.
Isso leva a considerações sobre a associação que fez entre Huck e o PSDB. E já há conversas entre aliados e estrategistas do apresentador sobre a eventualidade de o DEM entrar na composição.
Nesta semana, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (MDB), visitou FHC acompanhado do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (RJ).
Liderança do DEM, Maia circula como eventual presidenciável, mas até aqui é mais provável que ele busque cacifar a legenda para ocupar uma vaga de vice-presidente.
Mesmo Hartung é lembrado, aqui e ali, como um nome a dar peso institucional ao neófito Huck numa chapa. Só que ele é do MDB, partido do impopular presidente Michel Temer e um dos alvos prioritários de denúncias no âmbito da Operação Lava Jato.
Outro partido que acompanha a dança é o PSD de Gilberto Kassab. Praticamente fechado como vice de João Doria (PSDB) ao governo paulista, apesar de o tucano ainda ter de enfrentar prévias, o ministro trabalha com seu habitual pragmatismo.
Com um presidenciável de baixo potencial em seus quadros, Henrique Meirelles, o PSD irá esperar o cenário se consolidar para fechar nacionalmente com os tucanos.
Quem não está nada satisfeito com essa movimentação, claro, são os aliados de Alckmin. “Jogo duplo” é a expressão mais branda que se ouve sobre FHC entre eles nesses dias.