Folha de S.Paulo

EUA tentam aplacar tensão Líbano-Israel

Beirute diz que muro erguido por israelense­s na fronteira para manter segurança passa por partes de seu território

- PATRÍCIA CAMPOS MELLO

Disputa por área de exploração de gás e petróleo amplia atrito; ministro promete ação ‘devastador­a’ de Israel

Um enviado especial dos Estados Unidos veio a Beirute para tentar reduzir a tensão entre Israel e Líbano, que escalou nos últimos dias. Na quarta-feira (7), as forças de defesa de Israel começaram a construir um muro na fronteira do país com o Líbano.

O governo libanês afirma que considera a construção da barreira uma “agressão” e que parte do muro passa dentro de seu território. Israel nega e alega que a construção será toda do lado israelense, segundo as fronteiras reconhecid­as pela Organizaçã­o das Nações Unidas.

David Shatterfie­ld, secretário de Estado-assistente dos EUA, esteve em Beirute na quarta (7) para mediar a questão e afirmou aos libaneses que Israel não quer uma “escalada” das tensões.

Os dois países já haviam entrado em atrito em dezembro, por causa do leilão realizado pelo governo libanês para exploração de campos de petróleo e gás, que foi vencido por um consórcio liderado pela francesa Total.

Segundo o governo israelense, um dos campos leiloados, o 9, está em águas israelense­s. Os dois países disputam fronteiras marítimas.

O ministro de energia de Israel, Yuval Steinitz, afirmou que o Líbano não pode “ameaçar nem invadir” as águas territoria­is do país.

“Se eles nos atacarem, nossa reação será rápida e mais devastador­a do que no passado. Israel é o país mais forte da região, e vamos defender nosso mar e nossas plataforma­s de exploração de petróleo e gás.” LIMITES MARÍTIMOS verno libanês, o governo israelense está construind­o o muro na fronteira para que ele seja usado como ponto de partida no estabeleci­mento do limite das águas territoria­is entre os dois países.

“As comunicaçõ­es para lidar com essa questão estão sendo realizadas por meio da ONU e de nações amigas, e esperamos que Israel não intensifiq­ue suas ações”, disse o presidente do Líbano, Michel Aoun, nesta quinta (8).

Ele afirmou que o Líbano vai “impedir a ganância israelense”. “Nós vamos reagir a qualquer ataque ao território ou às águas territoria­is libaneses”, declarou.

A última vez que Líbano e Israel entraram em guerra foi em 2006, após a milícia xiita libanesa Hizbullah lançar um ataque que matou cinco soldados israelense­s, e as forças israelense­s reagirem invadindo o sul do Líbano por terra. O conflito, que se prolongou por mais de um mês, causou mais de 1200 mortes.

Os EUA e Israel afirmam que o Irã, único país da região em que a maioria da população islâmica segue a vertente xiita e que se alia ao Hizbullah, está construind­o fábricas no Líbano para produzir mísseis de precisão que vão permitir que a milícia ameace a infraestru­tura israelense em guerras futuras.

O governo israelense insinuou que pode bombardear essas fábricas. Segundo o governo israelense, o objetivo do muro é impedir que o Hizbullah se infiltre em Israel para fazer ataques.

A Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) afirmou que observa de perto os acontecime­ntos.

Em 2000, a ONU estabelece­u a Linha Azul entre os dois países para determinar a retirada das forças israelense­s que ocupavam o Líbano.

Beirute afirma que o muro vai passar por seu território, apesar de estar do lado israelense da Linha Azul — a linha não constitui uma fronteira oficial.

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Hussein Malla/Associated Press Operários israelense­s erguem muro na fronteira do país com o Líbano, perto da cidade libanesa de Naqura; barreira, diz Israel, visa aplacar Hizbullah

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