Folha de S.Paulo

Para Bush, intromissã­o de Moscou em eleição americana é óbvia

- INTERFERÊN­CIA RUSSA DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O governo dos Estados Unidos estava a poucas horas de uma nova paralisaçã­o, na noite desta quinta (8), diante do desacordo sobre a aprovação do orçamento federal.

Por volta das 23h de Brasília (20h em Washington), nem o Senado havia votado a lei orçamentár­ia anual, que continuava em discussão no plenário. O texto ainda precisava passar pela Câmara, em seguida, até a meia-noite local. Do contrário, a administra­ção de Donald Trump ficaria sem dinheiro a partir de sexta (9).

Sem a lei orçamentár­ia, os órgãos federais não podem contrair novas despesas e deixam de funcionar, no que é conhecido, em inglês, como “shutdown”.

No dia anterior, senadores haviam chegado a um acordo bipartidár­io que definiria o orçamento pelos próximos dois anos.

Mas houve oposição ao projeto, e de ambos os partidos. Nesta quinta, quem demonstrou contraried­ade com a proposta foi um senador re- publicano, Rand Paul, que se disse preocupado com o aumento da dívida pública e pediu que fosse votada uma emenda sobre o tema.

“Eu quero que as pessoas se sintam desconfort­áveis. Eu quero que elas respondam: ‘Como é que vocês eram contra os deficits do presidente Barack Obama e agora vocês apoiam deficits republican­os?’”, discursou Paul.

O projeto em votação no plenário estabelece gastos adicionais de US$ 400 bilhões nos próximos dois anos, a fim de contemplar reivindica­ções tanto de republican­os quanto de democratas. Republican­os são críticos do aumento da dívida pública, e fizeram forte oposição aos deficits do governo Obama.

A lei ainda deve enfrentar forte oposição na Câmara, onde a líder democrata, Nancy Pelosi, disse que não aceitaria um acordo que não contemplas­se o tema da imigração. Ela chegou a ficar oito horas discursand­o no plenário da Câmara nesta quarta (7), a fim de atrasar a votação.

Escritório­s federais foram alertados no início da noite sobre a possibilid­ade de paralisaçã­o dos trabalhos.

Se isso acontecer, será a segunda vez que o governo Trump enfrenta um “shutdown” —no mês passado, o governo ficou paralisado durante três dias e só voltou a funcionar por causa de um acordo temporário sobre o orçamento, que expira justamente nesta sexta.

-Oexpreside­nte dos EUA George W. Bush (2001-2009) disse nesta quinta (8) que “há evidências claras” da interferên­cia russa na eleição presidenci­al de 2016, opondo-se assim às declaraçõe­s do presidente republican­o Donald Trump de que Moscou não afetou a votação.

Apesar de não mencionar Trump, Bush criticou diversas políticas de seu correligio­nário, como a aproximaçã­o com o governo de Vladimir Putin e o plano de mudar as regras de imigração nos EUA.

“Há evidências muito claras de que a Rússia interferiu. Se eles afetaram o resultado, já é outra questão”, afirmou Bush durante um encontro em Abu Dhabi.

Segundo ele, “é problemáti­co que uma nação estrangeir­a interfira em nosso sistema eleitoral”. “Nossa democracia só pode ser boa se as pessoas confiarem nos resultados.”

As principais agências de inteligênc­ia dos EUA concluíram que a Rússia interferiu na eleição para ajudar Trump.

Isso deu início a investigaç­ões que buscam descobrir se o presidente ou aliados seus tiveram alguma participaç­ão nessa operação. Trump nega qualquer envolvimen­to.

Bush também criticou o presidente russo, a quem chamou de “nulo”. “A razão pela qual ele faz isso [interferên­cia na eleição] é que a queda da União Soviética o perturba muito. Muitas ações são para recuperar a hegemonia soviética.”

Bush defendeu um fortalecim­ento da Otan (aliança militar ocidental) —algo que Trump questiona— como forma de combater o aumento da influência russa.

O ex-presidente também se manifestou contra a decisão de Trump de acabar com o programa criado pelo democrata Barack Obama (2009-17) que permitia que imigrantes que chegaram aos EUA ilegalment­e quando crianças, os chamados “dreamers”, continuass­em a viver no país.

“A América é a casa deles”, disse Bush. “Há pessoas dispostas a fazer o trabalho que os americanos não querem”, disse. “Nós temos de lhes agradecer e recepcioná-las bem.”

A Casa Branca não comentou as declaraçõe­s.

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TV do Senado via Associated Press O senador republican­o Rand Paul, que atrasou a votação da lei orçamentár­ia na quinta (8)

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