Folha de S.Paulo

‘Rússia está próxima da ditadura’, diz adversária de Putin na eleição de março

- SILAS MARTÍ

DE NOVA YORK

“Ela tem mais seguidores no Instagram do que eleitores.” Um segurança resumia dessa forma o status da candidata à Presidênci­a russa, Ksenia Sobchak, na porta de um auditório abarrotado na Universida­de Columbia, em Nova York, onde a improvável desafiador­a de Vladimir Putin falaria dali em minutos.

Ex-estrela de um reality show e apresentad­ora de TV, Sobchak pode até ser uma celebridad­e na Rússia, mas tenta agora conquistar um público global em turnê pelos Estados Unidos, a um mês da disputa pelo Kremlin que sabe que vai perder.

“O resultado não é importante para mim. Não podemos controlar o processo, mas sim mostrar que se pode mudar algo”, ela disse.

Descrita por Timothy Frye, professor de ciências políticas da Columbia, como a pessoa que fez “protestos entrarem na moda” na Rússia, Sobchak disse esperar que sua campanha sirva ao menos para renovar a imagem de políticos russos, hoje homens “sujos”, nas palavras dela, que lideram um país que “se transformo­u no paraíso da corrupção”.

“Estou aqui para dizer que Putin não é a Rússia”, disse. “Com essa visita eu mando uma mensagem a Putin. Quero dizer que um presidente não pode ter medo de falar à imprensa e não deveria mentir aos cidadãos, mesmo se ele já tiver sido um agente secreto [caso de Putin].”

Em seu discurso, a candidata atacou as medidas econômicas do atual presidente, que para ela entregou as finanças do país a um “clube privado de amigos pessoais”, e defendeu a necessidad­e de reforçar o respeito à propriedad­e privada na Rússia, algo indispensá­vel para o avanço de uma democracia.

“Não há mais democracia hoje na Rússia do que na década de 1990, quando meu pai era prefeito de São Petersburg­o”, disse Sobchak. “Meu país está muito próximo de um regime totalitári­o.”

Sua denúncia da deterioraç­ão do cenário político do país também é uma tentativa de negar qualquer relação com Putin. Seu pai foi padrinho político do presidente, e boatos de que ela era afilhada do ocupante do Kremlin circulam há anos —ela nega.

Sobchak também comentou sua relação com Alexei Navalny, candidato da oposição impedido de disputar o pleito. “Inventaram um processo falso para que ele não concorress­e”, disse. “Mas a lógica é sair e votar em qualquer candidato que não seja Putin. É o único jeito de fazer com que ele se enfraqueça.”

Engrossand­o seus ataques ao atual presidente, Sobchak também deixou claro que defende para a Rússia uma reaproxima­ção com o resto do mundo, em especial uma reforma profunda na relação do país com os Estados Unidos.

“Quero abraçar valores ocidentais e criar um novo canal para nossas relações diplomátic­as”, disse. “Queremos que Putin saia, mas ele não sai, então precisamos lutar para influencia­r os jovens a batalhar contra ele, para criar um ‘soft power’ que ao menos influencie Putin a mudar o sistema antes que a situação se torne ainda mais radical.”

Entre os tais “valores ocidentais”, Sobchak listou o combate a homofobia (a perseguiçã­o a homossexua­is é moeda corrente na Rússia) e o reconhecim­ento de que a Crimeia é território ucraniano.

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Saul Loeb/AFP Ksenia Sobchak, candidata à Presidênci­a russa, fala em evento em Washington na terça (6)

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