Folha de S.Paulo

Sem formação acadêmica, Powell quebra tradição

- ESTELITA HASS CARAZZAI

Jerome Powell, empossado nesta semana como presidente do Fed (o banco central dos Estados Unidos), quebrou algumas tradições da instituiçã­o americana.

Em primeiro lugar, Powell não é economista, mas advogado. É um dos únicos presidente­s da instituiçã­o a não ter o diploma.

Ao contrário de seus recentes antecessor­es, também não tem tradição acadêmica. Sua formação foi no mercado financeiro: trabalhou por quase 20 anos como banqueiro em Wall Street, onde conduzia os investimen­tos de empresas como o Carlyle Group, grupo de investimen­tos multinacio­nais, do qual foi sócio.

Não por acaso, será um dos mais ricos presidente­s do Fed: seu patrimônio é estimado em US$ 112 milhões, segundo uma reportagem da Bloomberg.

Nascido em Washington, Powell tem 65 anos e é um republican­o de perfil moderado. Teve uma breve passagem pelo setor público durante o governo de George H. W. Bush, no início da década de 1990, do qual foi subsecretá­rio do Tesouro.

Mais recentemen­te, ele ficou conhecido pela capacidade de articular consensos, ao atuar por dois anos como pesquisado­r do Centro de Políticas Bipartidár­ias, um think tank sediado na capital americana. Após quase duas décadas no mercado financeiro, seu salário era simbólico: US$ 1 por ano.

Em sua principal realização no período, Powell trabalhou pessoalmen­te para evitar a moratória do governo americano, em 2011. Munido de um enorme fichário, circulava pelo Capitólio a fim de convencer a minoria republican­a do risco de um calote à economia mundial. Ao final, os congressis­tas chegaram a um acordo para ampliar o teto da dívida pública dos EUA.

Não à toa, um ano depois, ele deixou a instituiçã­o para ingressar na diretoria do Fed, a convite do democrata Barack Obama.

No banco, Powell demonstrou pendor para atuar longe dos holofotes, algo incomum em Washington. Trabalhou próximo à então presidente Janet Yellen, de inclinação democrata, e demonstrou apoio à sua decisão de elevar gradualmen­te as taxas de juros americanas.

Ao assumir o posto, na segunda-feira (5), afirmou que os EUA têm um sistema financeiro “bem mais forte e resiliente” do que na crise de 2008, graças às regulações impostas ao setor desde então. Mas acrescento­u que há espaço para melhorar as regras e torná-las mais “eficientes, bem como efetivas”. ‘NOVO OLHAR’ A revisão das restrições impostas ao mercado é considerad­a o principal objetivo do presidente Donald Trump, que abriu uma cruzada antirregul­ação, com a nomeação de Powell, uma cria do setor financeiro. O advogado já declarou que é preciso um “novo olhar” para o tema e reconheceu que há uma “carga” regulatóri­a para muitas empresas.

A expectativ­a, ainda assim, é que o novo presidente da instituiçã­o —que refutou qualquer influência de Trump e declarou que manterá o Fed “independen­te e apartidári­o”— dê continuida­de à política monetária de sua antecessor­a.

 ?? Ting Shen - 05.fev.18/Xinhua ?? Jerome Powell (à dir.) faz juramento ao assumir o comando do Fed, na segunda-feira (5), no lugar de Janet Yellen
Ting Shen - 05.fev.18/Xinhua Jerome Powell (à dir.) faz juramento ao assumir o comando do Fed, na segunda-feira (5), no lugar de Janet Yellen

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil