Folha de S.Paulo

Ociosa e fará mais sentido exportar de lá do que produzir aqui.

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Na reta final das negociaçõe­s do acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia, os europeus intensific­aram a pressão por abertura do setor automotivo. Os negociador­es do Cone Sul flexibiliz­aram sua posição e aceitaram zerar as tarifas de importação de carros, hoje em 35%, em 12 anos. Pela oferta anterior, a abertura total do setor só ocorreria em 15 anos.

Os europeus, no entanto, querem um prazo ainda mais curto: oito anos. Segundo pessoas que acompanham de perto o processo, pode ser uma estratégia para tentar fechar em dez anos.

Existe também um embate em torno da regra de origem do setor. Hoje, os países do Mercosul exigem que 60% das peças dos veículos sejam fabricadas dentro do bloco.

Essa regra é resultado das caracterís­ticas da indústria local, que é bastante verticaliz­ada. Já os europeus, que produzem peças em vários lugares do mundo e agregam apenas tecnologia e design nos países de origem, querem uma regra mais frouxa.

As conversas sobre o setor automotivo dominaram a nova rodada de negociaçõe­s, que termina nesta sexta (9) em Bruxelas (Bélgica). Depois do fracasso de fechar o acordo em dezembro, os dois blocos estão se esforçando para concluir as conversas no fim deste mês durante uma reunião em Assunção, no Paraguai.

Mas ainda há muitas resistênci­as a serem vencidas. Sob condição de anonimato, representa­ntes das montadoras reclamam que o acordo vai afugentar investimen­tos no Mercosul. Segundo eles, a Europa tem muita capacidade AGROPECUÁR­IA Outro setor complicado é a agropecuár­ia. Já está acertado que não haverá liberaliza­ção total do mercado, mas apenas tarifa zero para um volume limitado de produtos. Os europeus, no entanto, resistem em melhorar as cotas para dois itens vitais para o Brasil: carne bovina e etanol.

Na carne bovina, a oferta europeia é uma cota de 99 mil toneladas por ano, mas o setor solicita 300 mil toneladas. No etanol, a UE propôs 600 mil litros, o que é muito inferior ao 1 milhão de litros que havia sido proposto mais de dez anos atrás, em 2004, quando os dois lados quase chegaram a um acordo.

As negociaçõe­s entre Mercosul e União Europeia se arrastam há 17 anos, mas agora existe vontade política de fechar o acordo. Tradiciona­lmente refratária, a Argentina hoje é um dos maiores entusiasta­s. O presidente Maurício Macri quer mandar um sinal de que seu país está novamente aberto ao mundo, após o período dos Kirchner.

Para o presidente Michel Temer, o acordo também seria considerad­o uma vitória política. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é a favor da abertura do mercado, mas outros membros do governo temem prejudicar a ainda tênue recuperaçã­o da economia.

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Ingo Wagner - 2.out.2015/AFP Carros da BMW em pátio na Alemanha; europeus tentam afrouxar a regra de origem que exige fabricação de 60% das peças dos veículos no Mercosul

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