Postalis dispensou garantias, diz Rabello
Presidente do BNDES e dono da SR Rating aponta erro da direção do fundo para justificar perda total num investimento
Reportagem da Folha com base em relatório da PF mostrou que executivo validou operação prejudicial
O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, disse nesta quinta-feira (8) que a agência de classificação de risco SR Rating, de sua propriedade, cumpriu “rigorosamente” seu papel ao avaliar operação que deu prejuízo de R$ 109 milhões ao Postalis, fundo de pensão dos Correios, que é investigado pela PF (Polícia Federal) e pelo MPF (Ministério Público Federal.
Esse e outros negócios que deram perdas ao Postalis levaram à Operação Pausare, que realizou no dia 1º busca e apreensão na casa de Rabello e na SR, da qual o executivo se afastou para comandar o banco.
Segundo Rabello, a fundação abriu mão das garantias do financiamento ao aceitar a troca de imóveis concedidos inicialmente por uma hipoteca e perdoar o devedor de penalidades previstas em contrato.
Ele disse que irá à Polícia Federal após o Carnaval levar documentos que comprovariam suas alegações e que “de jeito nenhum” chegou a pensar em se afastar do BNDES por causa das investigações.
Relatório da Operação Pausare obtido pela Folha aponta que o fundo perdeu os R$ 109 milhões aplicados em CCIs (cédulas de crédito imobiliário) emitidas pela Mudar Master II Participações, entre 2010 e 2011.
Para fazer essa aplicação, o Postalis considerou pareceres produzidos pela SR Rating. Rabello era um dos integrantes do comitê responsável pela avaliação dos investimentos. “A gente tem certeza absoluta de que cumpriu rigorosamente nossa obrigação”, afirmou Paulo Rabello, em entrevista concedida nesta quinta para defender a atuação de sua empresa.
A agência deu nota brA (satisfatória ou boa, no âmbito local e no prazo analisado) aos títulos. O executivo de- fende que, na classificação global da SR, essa nota é equivalente a BB+, abaixo do grau de investimento, que representaria “risco mediano”.
Segundo ele, a análise da SR Rating considerou que as debêntures eram garantidas por imóveis da Mudar Investimentos Imobiliários, do empresário Augusto Martinez Almeida, também investigado pela Pausare.
Em novembro de 2012, porém, o Postalis teria feito uma repactuação no contrato, aceitando a troca dos imóveis por uma segunda hipoteca de um outro empreendimento, ampliando o risco de calote.
Dois meses antes, segundo Rabello, a SR já havia rebaixado a nota dos títulos para BB-, o que daria ao Postalis o direito de pedir o pagamento antecipado da dívida, segundo cláusula contratual. Apesar disso, continuou ele, a fundação concedeu o “waiver” (perdão) dessa cláusula no momento da repactuação.
A investigação concluiu que nenhuma parcela de juros ou amortização dos títulos foi paga, e, sem garantias, a Postalis perdeu tudo.
“As empresas investidas [que receberam investimento] não fizeram nenhum pagamento ao Postalis, tendo todo o dinheiro do fundo de pensão simplesmente desaparecido”, escreveram o procurador da República Ivan Marx e o delegado Luiz Flávio Zampronha.
O valor seria aplicado em empreendimentos da Mudar Investimentos Imobiliários, que já havia passado por uma crise financeira em 2009.
Rabello questionou afirmação do MPF sobre elogios da SR à Mudar nas análises técnicas e disse que os riscos e garantias foram incluídos no documento. “Nenhuma empresa de classificação de risco encoraja ou desencoraja investimentos”, defendeu o executivo. “O comitê de investimentos de um fundo de pensão é quem decide se vai fazer ou não.”
Procurada, o Postalis não se manifestou sobre as afirmações de Rabello. A fundação está sob intervenção da Previc, o órgão regulador do segmento de previdência complementar, desde outubro de 2017.