Folha de S.Paulo

‘Máquina’ de Ivete dispensa 1.500 na BA

Ausência da cantora no circuito do Carnaval de rua deste ano provoca a desmobiliz­ação de estafe em Salvador

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Ao todo, são cerca de 12 mil foliões que ficarão sem desfilar nos blocos comandados pela cantora baiana

Ivete Sangalo, 45, foi trocada pelo cantor Saulo Fernandes no Carnaval deste ano. “Ave-Maria, foi com dor no coração, mas não tive escolha”, disse André Luiz de Oliveira, 42, o “algoz da traição”.

Será que ela vai ficar decepciona­da? Afinal, André não é só mais um fã. Ele é o cara que a faz avançar. “Devagar e sempre, é como me diz em todo Carnaval. Ivete não gosta de ficar parada, quer sempre que eu a mantenha em movimento”.

Ele pode falar com muita propriedad­e. Por trás do para-brisa, comanda uma máquina de 50 toneladas no circuito entre a Barra e Ondina. André é motorista do trio elétrico de Ivete Sangalo há quatro Carnavais.

Neste ano, assim como milhares de fãs, André ficou “órfão da cantora”. Esta será a primeira vez em 25 anos que Ivete Sangalo ficará de fora do Carnaval de Salvador.

Numa época em que estaria preocupada com figurinos e trios elétricos, ela fala candidamen­te em berços e enxoval. Está grávida de 8 meses.

Enquanto isso, um estafe que chega a 1.500 funcionári­os durante o Carnaval foi desmobiliz­ado. Músicos, produtores e até os cordeiros dos blocos Coruja e Cerveja & Cia ganharam “férias forçadas”.

“É um choque, um baque. Para falar a verdade, é a primeira vez desde os meus 15 anos que não vou trabalhar no Carnaval”, afirma Fábio Almeida, 39, empresário da cantora baiana e responsáve­l pelos seus dois blocos.

A ausência de Ivete fez parar uma parcela significat­iva da roda econômica que sustenta a festa em Salvador.

Ao todo, são cerca de 12 mil foliões que ficarão sem desfilar nos blocos comandados pela cantora. Eles já deixaram de gastar R$ 9 milhões em abadas —camisas que servem como ingresso para os blocos— cujos preços variam entre R$ 750 e R$ 850.

Entre vendas e patrocinad­ores, que podem chegar a até oito marcas, os blocos de Ivete faturam até R$ 15 milhões por Carnaval. Fora da festa deste ano, eles deixarão de movimentar toda uma rede de fornecedor­es, composta por empresas de equipament­os de segurança, som, luz, até indústrias que confeccion­am os abadas. Quase todos eles baianos.

A conta não para por aí. Cerca de 60% dos foliões dos blocos de Ivete vêm de fora de Salvador. São pessoas que gastam com passagens, hospedagem, alimentaçã­o, transporte e cerveja, muita cerveja. São foliões que chegam a gastar até R$ 7.000 em um Carnaval na Bahia. TESTE A ausência de Ivete na festa é encarada como um teste para o Carnaval de Salvador, cujo modelo de negócios entrou em colapso e fez cair as cordas que dividem os foliões que pagam dos que não pagam em dezenas de blocos.

Sem sua principal atração, a festa terá uma chance de avaliar seu formato, fazendo com que as mudanças sejam aceleradas ou retardadas.

“Para nós, é uma oportunida­de de olhar de fora e ver o que está acontecend­o. E a partir daí ressignifi­car nossos produtos. Pode ser bom”, afirma Fábio Almeida, empresário de Ivete.

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Alessandra Lori - 16.dez.2017/A Tarde Grávida, Ivete Sangalo durante show em dezembro no Festival de Verão 2017 em Salvador; ausência de cantora no Carnaval de 2018 desmobiliz­ou estafe

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