Folha de S.Paulo

Primo pobre do PSG sonha com volta à elite da França após 39 anos

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DE SÃO PAULO

Pierre Ferracci sabe o que faria se se tivesse 222 milhões de euros no banco: “Posso assegurar que nosso time seria bem diferente”.

Este foi o valor pago pelo Paris Saint-Germain para comprar Neymar em julho de 2017. A mais cara transação da história do futebol.

Consultor, especialis­ta em políticas sociais e próximo a movimentos sindicais franceses, Ferracci é presidente do Paris FC, equipe da capital francesa que disputa a segunda divisão do país. Pode ser considerad­o o primo pobre do milionário PSG.

Antes do início da atual temporada, o clube fez 15 contrataçõ­es para reformular o elenco. Todos chegaram de graça. Entre eles, o atacante Tchokounte, artilheiro do time na liga, com sete gols.

“Se você olhar a região de Paris, há 12 milhões de pessoas. Acredito haver espaço para duas equipes da cidade na primeira divisão. Estamos tentando chegar lá”, completa o dirigente francês.

O raciocínio do presidente é lógico, mas não encontra respaldo nas estatístic­as do torneio. Como mandante, o Paris FC tem a segunda pior média de público da segunda divisão, com 2.684 pessoas por jogo. A equipe atua no estádio Charléty, com capacidade para 20 mil pagantes. A média do PSG é de 45.317.

O acesso é possível apesar das restrições orçamentár­ias. Está na quarta posição, com 42 pontos. Sobem os dois melhores colocados. O terceiro disputa repescagem.

“A comparação entre os dois clubes é inevitável, mas nós vivemos outra realidade. Queremos estar próximos do Paris Saint-Germain, mas não podemos alcançá-lo”, reconhece Ferracci.

As coisas mudam. Em passado não muito distante, era o PSG que teria dificuldad­e para se comparar ao Paris FC.

A palavra “Paris” da sigla PSG vem do Paris FC. No início da década de 1970, os dois clubes eram um só. O Paris se fundiu ao Stade Saint-Germain para que a capital francesa tivesse um clube na elite do futebol francês. Em 1972, porém, a prefeitura se recusou a dar apoio financeiro para uma equipe que não tivesse a sede na cidade, já que o então PSG ficava em Saint-Germain-en-Laye.

Desfeita a união, o Paris FC ficou com a vaga na elite, o estádio Parque dos Príncipes (onde o PSG atua hoje) e todos os jogadores do elenco. Uma decisão administra­tiva rebaixou o agora Paris SaintGerma­in à terceira divisão.

Era para ser o momento de afirmação, mas foi o começo da queda. A última vez que o time disputou a liga principal foi em 1979. Para tentar se salvar, em 1983 fez parte de outra fusão, com o Racing Club. Não deu certo, e quando o negócio foi desfeito, o Paris foi para a quarta divisão.

Nos anos 1970 era o clube de maior torcida da capital. Depois foi superado com folgas pelo PSG, não apenas na popularida­de. Em tudo.

“Temos um time bem experiente, com jogadores que sabem onde podem chegar e que não olham para o PSG como um espelho. Jogamos com simplicida­de, nosso estilo é simples e nossos objetivos também”, analisa Fabien Mercadal, técnico responsáve­l pelo ressurgime­nto da equipe em campo. Nos últimos três meses, perdeu apenas uma partida.

A volta à elite poderia significar aumento da torcida, especialme­nte entre os parisiense­s que rejeitam o modelo de negócios do PSG, comprado em 2011 pelo Qatar Sports Investment, fundo de investimen­to ligado à família real do país que vai sediar a Copa do Mundo de 2022.

“Queremos conquistar o coração das pessoas. Paris é grande o suficiente para dois amores”, sonha Ferracci. (AS)

 ?? Divulgação/Paris FC ?? O atacante Tchokounte, do Paris FC ,c obra uma penalidade em partida contra o Auxerre
Divulgação/Paris FC O atacante Tchokounte, do Paris FC ,c obra uma penalidade em partida contra o Auxerre

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