Folha de S.Paulo

Fachin nega pedido de Lula e o envia a ministros do STF

Decisão de compartilh­ar habeas corpus com plenário surpreende­u colegas

- LETÍCIA CASADO Votou a favor, já mudou de entendimen­to

Corte pode usar caso para rediscutir prisão em 2ª instância; petista foi condenado pelo caso do tríplex de Guarujá

O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, decidiu nesta sexta-feira (9) enviar o pedido de habeas corpus feito pelo ex-presidente Lula ao plenário da corte, após negar a solicitaçã­o.

A defesa do petista tenta evitar uma eventual prisão em razão da condenação no caso do tríplex de Guarujá. A decisão de Fachin pode provocar a rediscussã­o pela corte das prisões após a condenação em segunda instância.

Fachin negou a solicitaçã­o em caráter liminar para evitar a prisão, mas remeteu o mérito ao pleno —contrarian­do a defesa do petista, que queria a discussão na segunda turma, considerad­a mais propensa a conceder habeas corpus.

Nos bastidores, a expectativ­a era de que Fachin negasse ou não conhecesse o habeas corpus e esperasse a defesa recorrer para encaminhar o caso ao plenário.

A decisão do ministro de negar o pedido e enviar imediatame­nte o caso ao plenário surpreende­u. Em caráter reservado, um magistrado disse que a medida foi correta devido à dimensão do caso.

A defesa de Lula havia pedido para que a ação fosse julgada pela segunda turma do STF, composta por Fachin e outros quatro colegas: Dias Toffoli, Ricardo Lewandowsk­i, Gilmar Mendes e Celso de Mello. Os quatro entendem até o momento que o réu deve recorrer em liberdade, e, portanto, não ser preso após decisão em segunda instância.

Caberá à presidente Cármen Lúcia marcar a data do julgamento. De acordo com sua assessoria, por enquanto ela não tem previsão de pautar o caso.

Cármen e Fachin não conversara­m sobre a decisão de levar o habeas corpus ao plenário: a ministra estava fora de Brasília nesta sexta e foi informada da decisão no fim da tarde, quando chegou ao STF.

Pouco antes de decidir sobre o habeas corpus, Fachin recebeu em audiência Gilberto Carvalho, que entre 2003 e 2010 chefiou o gabinete pessoal de Lula.

Na véspera, o magistrado O ex-presidente pediu ao Supremo Tribunal Federal que não seja preso até a decisão definitiva sobre o processo. O ministro Edson Fachin enviou o pedido ao plenário da corte Entrar com pedido de habeas corpus em um dos tribunais superiores que determinou o cumpriment­o da pena a partir da sentença em segunda instância, foi apertada: > Seis ministros posicionar­am-se a favor > Cinco contra > se reuniu com os advogados de Lula, incluindo o ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence, que, no começo da semana, integrou a defesa do petista. É praxe ministros do STF receberem advogados de investigad­os e réus.

Em 24 de janeiro, Lula foi condenado por lavagem de dinheiro e corrupção passiva em segunda instância, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Ele já havia sido condenado pelo juiz Sergio Moro.

Caso o STF discuta o habeas corpus de Lula ou outra ação que envolve a execução provisória da pena, a corte pode mudar o entendimen­to sobre o assunto. Em 2016, por 6 a 5, o Supremo decidiu que o juiz pode determinar que a pessoa comece a cumprir a pena depois que ela foi condenada por um tribunal.

Ainda é cedo para afirmar que haverá mudança, mas, no momento, a tendência é que os ministros acolham uma tese “alternativ­a”: esperar o STJ (Superior Tribunal de Justiça) julgar o caso.

No pedido, a defesa de Lula menciona que existe possibilid­ade de o STF discutir novamente o assunto e ter outro resultado, já que Gilmar Mendes mudou de posição —era a favor e agora é contra a prisão após segunda instância.

Para Fachin, o argumento é legítimo. Ele destaca que o plenário deve voltar ao tema com duas ações relatadas por Marco Aurélio e que as turmas do STF (primeira e segunda) têm entendimen­tos diferentes sobre o assunto.

“Há, portanto, relevante questão jurídica e necessidad­e de prevenir divergênci­a entre as Turmas quanto à questão relativa à possibilid­ade de execução criminal após condenação assentada em segundo grau de jurisdição”, escreveu o magistrado. DEFESA A defesa de Lula afirmou que a decisão de Fachin dará ao plenário do STF “a oportunida­de de aplicar a Constituiç­ão, especialme­nte no que se refere à garantia da presunção de inocência até decisão final da qual não caiba mais recurso”.

“O ex-presidente foi condenado em um processo marcado por manifestas nulidades e sem ter praticado nenhum crime”, diz a nota.

“Esperamos que a ação seja pautada no plenário do STF o mais breve possível, a exemplo da rapidez da decisão tomada pelo próprio ministro Fachin.”

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