Justiça americana espera volta de Hawilla
Empresário será sentenciado em abril e pode ser condenado a 80 anos de prisão por caso de corrupção no futebol
Amigos de J. Hawilla disseram que ele pediu autorização temporária para voltar ao Brasil; Justiça não confirma
O empresário J. Hawilla, 74, disse a amigos em São José do Rio Preto (437 km de São Paulo) que em três semanas estará na cidade. Mas a Justiça americana, em mensagem à Folha, afirmou que ele tem de voltar aos EUA em abril.
“Ele será sentenciado no dia 23 [de abril] na Corte Federal do Brooklyn e deverá estar presente”, afirmou John Marzulli, assessor da corte.
O empresário brasileiro fez acordo de delação premiada com a Justiça americana e se declarou culpado de quatro crimes: organização criminosa, fraude financeira, lavagem de dinheiro envolvendo contratos da Copa América e obstrução de Justiça.
Se for condenado às penas máximas por todas essas infrações, poderá pegar até 80 anos de prisão. Ao depor na corte do Brooklyn sobre o ca- so, ele usou um balão de oxigênio para ajudar na respiração. Hawilla disse à juíza que teve câncer na garganta e passou por cirurgia cardíaca. Também afirmou sofrer de hipertensão pulmonar.
Desde 2013, J.Hawilla não estava autorizado a deixar as cidades de Miami e Nova York, mas não está confirmado se ele foi autorizado agora a sair dos Estados Unidos.
A viagem para o Brasil é seu primeiro deslocamento internacional em pouco mais de quatro anos, desde que confessou seu envolvimento no escândalo de corrupção.
A Justiça dos Estados Unidos não comenta a viagem de Hawilla e não confirma se esta foi autorizada ou não. Pessoas ligadas ao empresário disseram à Folha que ele pediu para passar algumas semanas no Brasil por questões pessoais e a solicitação foi atendida pela juíza.
Seu advogado nos Estados Unidos, Shawn Naunton, da firma Zuckerman Spaeder, não quis comentar a viagem de seu cliente. O advogado do empresário em São Paulo, José Luis Oliveira Lima, também se recusou a dar qualquer informação sobre a situação do processo.
“Estou de volta. Não posso dar entrevistas nem comentar nada”, disse Hawilla em rápido contato telefônico. DELATOR Seu acordo com a Justiça dos Estados Unidos resultou no indiciamento de dirigentes esportivos de órgãos sulamericanos, entre eles o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e os ex-mandatários da entidade Ricardo Teixeira e José Maria Marin. Este último está preso no bairro do Brooklyn, em Nova York, e aguarda sentença após ser condenado por participação no esquema. Os três se declaram inocentes.
As colaborações do empresário com o FBI (polícia federal norte-americana) começaram no final de 2013. Ele grampeou conversas com outros envolvidos em esquemas de pagamento de propina e lavagem de dinheiro ligados a contratos de futebol.
A abordagem do FBI ocorreu logo após o próprio J.Hawilla ter sido gravado por outro delator envolvido no esquema de corrupção.
No depoimento, Hawilla confessou ter feito pagamentos para Nicolas Leoz, paraguaio que presidiu a Conmebol entre 1986 e 2013; Julio Grondona, mandatário da Associação de Futebol Argentino de 1979 até a sua morte, em 2014; e Ricardo Teixeira, que comandou a CBF entre 1989 e 2012. Com pagamento de propinas à Conmebol, ele teria garantido para a Traffic, empresa de que foi fundador, os contratos de transmissão da Copa América em 1993, 1995 e 1997. Em 2011, ele perdeu os diretos sobre o torneio continental.
A Traffic chegou a ser a maior empresa de marketing esportivo da América Latina e tem também um braço no futebol, o Desportivo Brasil, clube criado para revelar jogadores e negociá-los com o exterior. Segundo o próprio Hawilla, a Traffic hoje está à venda por causa da queda de receita. Seus negócios incluem também a TV TEM, afiliada da Rede Globo que transmite o canal para 318 municípios do interior paulista. Ele foi fundador e proprietário da Rede Bom Dia de jornais, com veículos de circulação diária em 12 cidades do interior e da Grande São Paulo.