Folha de S.Paulo

Um grito de dor no meio da multidão

A violência doméstica tem agressor que conhece muito bem a sua vítima, fazendo com que a mulher se sinta até merecedora das agressões

- CARLOS BEZERRA JR.

Ao longo da história da humanidade, muitas vítimas sofreram, gritaram e pagaram com suas próprias vidas até que o mundo se desse conta da necessidad­e de ouvir e agir em casos de violência contra a mulher.

Apesar de muitos avanços, inclusive nas condições normativas para garantir direitos e punições, estamos longe de resolver uma das piores formas de violação de direitos humanos. Em alguns países, tal situação ainda é respaldada por leis e justificad­a por culturas milenares.

Escolhi como profissão, de coração, cuidar da vida e da vida que gera vida. Sou ginecologi­sta e obstetra —e nos períodos em que trabalhava como plantonist­a em prontossoc­orros foram inúmeros os casos de mulheres violadas e violentada­s que chegavam no meio da noite.

A violência doméstica, o abuso sexual e o estupro eram conhecidos não apenas por números e estatístic­as assombroso­s, mas a partir de histórias relatadas, cotidianam­ente, por vidas que ficarão marcadas pela agressão física, psicológic­a e emocional.

Uma vez estive em uma longa conversa com Nadine Gasman, representa­nte do escritório da ONU Mulheres no Brasil, tratando de parcerias para fortalecer o papel da mulher em nossa sociedade, inclusive através da política.

Ela tem uma definição que diz muito a todos nós sobre a maneira distorcida como nos organizamo­s em sociedade: “Nascer mulher define nossa existência social”.

Essa afirmação diz respeito não só à violência, ao tráfico e à exploração sexual, a mulheres raptadas, tiradas de suas famílias, privadas de suas próprias vidas, mas também fala da condição da mulher, seja no campo da educação ou no mercado de trabalho e no convívio social.

Campanhas como #MeToo, #NemUmaAMen­os e ElePorEla são lançadas no mundo com o objetivo de chamar a atenção para essa calamidade universal, para esse esvaziamen­to completo do valor da vida e do respeito à pessoa que, além de tudo, impõe normas de conduta à mulher.

A ONU criou uma data, 17 de novembro, para que o mundo possa refletir e debater a eliminação da violência contra as mulheres, mas é no Carnaval que essas violações se acentuam no Brasil.

As denúncias de violência sexual no Carnaval de 2017 aumentaram 87,9% em comparação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, do governo federal. Os números levam em conta os atendiment­os registrado­s pela Central de Atendiment­o à Mulher (Disque 180).

Provavelme­nte o cenário é ainda pior, dado o grande número de subnotific­ação nesses casos.

A violência no âmbito doméstico, por exemplo, tem um agressor que conhece muito bem a sua vítima, sabe exatamente como manipulá-la, fazendo com que a mulher tenha vergonha, sinta-se culpada ou até merecedora das agressões.

Quando percebe que há risco de rompimento, o agressor corre para o apelo, garantindo que a violência não se repetirá. Infelizmen­te, voltará a acontecer. Quase sempre essa violência é silenciada.

Os números disponívei­s, de toda forma, compõem um quadro desalentad­or. No mundo, são mais de 2 milhões de mulheres e meninas vendidas e compradas como escravas sexuais; 15 milhões de jovens, de 15 a 19 anos, que já sofreram abuso sexual; a cada hora, 503 mulheres são vítimas de agressão física no Brasil.

No país, um caso de estupro é notificado a cada 11 minutos —70% das vítimas são crianças e adolescent­es.

Quando algumas mulheres erguem suas vozes para dizer “eu também sofri”, um coro se junta para chamar esse movimento de “onda de denuncismo e exagero numa Hollywood em chamas”.

Na verdade, mulheres quebraram o silêncio e tiveram a coragem de denunciar abertament­e seus agressores —algo que os homens e o business queriam manter em sigilo.

Fato é que nem eu nem você podemos falar por elas, todavia podemos nos juntar a elas para que, como disse a ativista paquistane­sa Malala Yousafzai, possamos levantar “a voz, não para gritar, mas para que aqueles sem voz possam ser ouvidos...”. Que assim seja feito, no meio da multidão. CARLOS BEZERRA JR.

O que Ricardo Lewandowsk­i faz em seu artigo é enviar uma mensagem para seus nobres colegas Moraes, Fachin, Fux, Gilmar, Cármen e Barroso: apesar de se considerar poderosa, a Justiça não pode mudar a Constituiç­ão. E presunção de inocência é uma de suas cláusulas pétreas.

LÉO HELLER

Presunção da inocência é pilar da democracia. Ou melhor, é o pilar da corrupção e da impunidade, principalm­ente de poderosos e de políticos corruptos que, com tantos recursos e pedidos de vista, dificilmen­te são condenados.

ORSON MUREB JACOB

Ótimo, didático e corajoso o artigo de Ricardo Lewandowsk­i. Absolutame­nte constituci­onalista. Nada nem ninguém, muito menos a Justiça, está acima da Constituiç­ão.

ANÍSIO FRANCO CÂMARA

Romero Jucá O ministro Gilmar Mendes deve explicaçõe­s sobre quais motivos o levaram a engavetar por cinco anos o processo contra o senador Romero Jucá (“Falta de dados e falhas marcam investigaç­ão sobre Jucá no STF”, “Poder”, 8/2).

CLAUDIO TERRIBILLI

Auxílio-moradia

PSDB e PT se tornaram partidos datados, estagnados em um país e em um mundo de outra época, tanto na ideologia como nas práticas. Caducaram e estão querendo criar artifícios para parecerem atuais (“Estilo de Huck é o do PSDB”, “Poder”, 9/2).

DENIS TAVARES

Enquanto a esquerda se une em torno de um condenado por corrupção, o centro se esforça para minar todos os possíveis candidatos. Parece ser a aplicação da lei da oferta e da procura ao mercado interno da pré-eleição. Quem dá mais?

THYRSO DE CARVALHO JR.

Quando candidato à prefeitura, João Doria se apresentou como gestor e venceu no primeiro turno. Assumiu, viajou muito sem motivos aparentes e pouco fez pela cidade. Empolgou-se com a política e pensou na Presidênci­a. Desistiu. Agora, pensa em ser governador. Acho que deveria primeiro mostrar serviço como gestor de São Paulo. Ambição não leva a nada. Bons serviços executados, sim (“Doria quer previas do PSDB em março”, “Poder”, 8/2).

EDGARD HILGENDORF­F

Colunistas

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Marcos Lorente

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