Barroso intima diretor-geral da PF a se explicar sobre declarações
Segovia disse não haver provas em inquérito sobre Michel Temer
O ministro do STF Luís Roberto Barroso intimou o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, a confirmar declarações dadas por ele de que a tendência do órgão é arquivar investigação sobre o presidente Michel Temer (MDB).
Em despacho, o ministro, que é relator do inquérito no Supremo, disse ter considerado “manifestamente imprópria” a fala de Segovia, afirmando que ela pode, em tese, “caracterizar infração administrativa e até mesmo penal”.
As declarações foram dadas em entrevista do diretorgeral da PF à agência Reuters nessa sexta (9). Barroso determinou também a Segovia que se abstenha de novas manifestações a respeito.
Segundo informou à Folha o gabinete do ministro, em troca de mensagens de texto no sábado (10) com Barroso, Segovia solicitou uma audiência para se explicar e afirmou ter sido “mal interpretado” na entrevista. Os dois se reunirão no dia 19.
Na entrevista, o diretor disse que não há provas de crime contra o presidente no inquérito que trata de um decreto para a área portuária.
Afirmou ainda que, se a Presidência da República acionar formalmente a PF a propósito do tom de perguntas feitas por escrito a Temer pelo delegado que preside o inquérito, poderá ser aberto um procedimento administrativo disciplinar contra ele.
Para a equipe do presidente, Segovia errou ao ter se antecipado e criou uma animosidade desnecessária dentro da PF, sobretudo com o delegado responsável pela investigação, Cleyber Lopes.
A avaliação no Planalto é de que o chefe do órgão acabou atrapalhando a condução do inquérito e que o episódio afeta sua imagem pública, mas não tem força para derrubá-lo do cargo neste momento.
Segovia chegou à diretoriageral da PF tendo entre seus desafetos justamente Lopes, com quem teve um desentendimento no passado.
Em nota divulgada após a repercussão da entrevista, Segovia disse que apenas “acompanha” todos os “casos que possam ter grande repercussão social”.
“Asseguro a todos os colegas e à sociedade que estou vigilante com a qualidade das investigações que a Polícia Federal realiza, sempre em respeito ao legado de atuações imparciais que caracterizam a PF ao longo de sua história.” CRÍTICAS A fala de Segovia recebeu críticas de entidades.
O presidente da ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), Edvandir Felix de Paiva, afirmou que as declarações ferem a prerrogativa dos delegados de terem autonomia na presidência de um inquérito.
Paiva disse que a repercussão da entrevista foi “horrorosa, causou mal-estar enorme” entre os delegados. “Se ficarem confirmados os termos dessa entrevista, aliás queremos que a direção da Polícia Federal explique, o diretor-geral está ferindo prerrogativas do nosso cargo de delegado. Coloca a Polícia Federal numa situação muito ruim.”
Também houve críticas da APCF (Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais) e Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais).
O presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), José Robalinho Cavalcanti, disse que “foi lamentável sob todos os aspectos o infeliz espetáculo de desrespeito do diretor-geral Fernando Segovia pela sua própria instituição e por seus subordinados”.
Em nota, o presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, afirmou que “não parece recomendável nem é apropriado” que o diretor-geral “dê opiniões a respeito de investigações em curso, sobretudo porque, recentemente, manteve reuniões com o investigado [Temer]. O momento do país pede o fortalecimento das instituições.” (LEANDRO COLON, RUBENS VALENTE, CAMILA MATTOSO, GUSTAVO URIBE E WÁLTER NUNES) JANIO DE FREITAS Excepcionalmente, a coluna não é publicada neste domingo