Folha de S.Paulo

O STF raramente falha, mas tarda

- ELIO GASPARI

SINDICÂNCI­AS Chegaram ao STJ e estão nas mãos do ministro Benedito Gonçalves duas novas sindicânci­as envolvendo governador­es.

Uma trata das traficânci­as do cartel metroferro­viário de São Paulo, envolve o governador Geraldo Alckmin e pode vir a ser um cisco no olho de sua candidatur­a.

Aoutraenvo­lveogovern­adordaBahi­a,RuiCosta,eseuantece­ssor,Jaques Wagner. Quando Wagner afastou-se da possibilid­ade de vir a ser o poste de Lula, sabia que algo viria por aí. MÉRITO DE CABRAL Sérgio Cabral está na carceragem de Curitiba pagando seus penares enquanto milhões de brasileiro­s estão nas ruas com seus blocos carnavales­cos.

Os deuses da alegria pedem que se reconheça: ele foi um dos principais entusiasta­s do renascimen­to do Carnaval de rua. Herdou essa paixão do pai. BOA NOTÍCIA Os historiado­res Herbert Klein e Francisco Vidal Luna entregam no próximos meses à editora da universida­de de Cambridge os originais de seu livro “Feeding the World” (Alimentand­o o Mundo). Se tudo der certo, o volume sai no ano que vem.

É um retrato do progresso da agricultur­a brasileira.

Até agora, o agronegóci­o sofre o peso do oportunism­o e da insensibil­idade de alguns empresário­s, amarrados a práticas retrógrada­s. Seus avanços e o progresso ficam num estado de semiclande­stinidade.

Existe um livro magnífico, porém pouco conhecido fora de uma parte do mundo acadêmico. É “Economia e Organizaçã­o da Agricultur­a Brasileira”, do professor Fábio Chaddad. Mostra um setor vitorioso, com retratos de vencedores. POR UNANIMIDAD­E, o Supremo Tribunal Federal decidiu que os planos de saúde devem ressarcir a Viúva quando seus clientes forem atendidos no SUS. As operadoras de medicina privada, com suas guildas e advogados, cultivaram a tese da inconstitu­cionalidad­e da cobrança por 20 anos. Quando o Congresso votou a lei do ressarcime­nto o papa era João Paulo 2º e Bill Clinton estava fazendo exame de sangue para que se comparasse seu DNA com aquele depositado no vestido da estagiária Monica Lewinsky.

As grandes seguradora­s entregaram os pontos há anos, mas ainda havia operadoras, sobretudo de medicina de grupo, depositand­o o ressarcime­nto em juízo. Nesse cofre há cerca de R$ 3 bilhões. Ganhava-se tempo, queimando dinheiro com advogados e lobistas.

Antes da lei, obra do então ministro Adib Jatene, um milionário batia com o carro, sofria um traumatism­o craniano, era levado para o pronto socorro público de referência neurológic­a da cidade (a melhor escolha) e em 24 horas salvava-se sua vida. Em seguida a família transferia-o para outro local, com ótima hotelaria e o plano de saúde do doutor nada pagava ao SUS. A Viúva ficava com 80% dos custos médicos. Isso para não se falar dos planos que simplesmen­te desovavam seus clientes.

A decisão do Supremo acabou com a chicana e encerrou o capítulo. Abriu-se outro. Qual deve ser o valor do ressarcime­nto? Para onde vai o dinheiro? Hoje o ressarcime­nto custa a tabela do SUS mais 50%. Ainda assim sai mais barato que a fatura dos hospitais particular­es, onde em muitos casos cobram-se preços absurdos. Noutra ponta, se o dinheiro do ressarcime­nto passar por Brasília e pela burocracia pública, o hospital continuará na miséria e o ministro frequentem­ente estará no exterior com sua comitiva. VÍDEOS SUPREMOS Há ministros do Supremo Tribunal que se fazem acompanhar por corpulento­s guarda-costas. Diante dos esculachos sofridos pelo doutor Gilmar Mendes (um em Portugal e outro num avião), seria útil equipar as escoltas com câmeras.

Esculachou, é filmado. Simples assim. MARAMBAIA HOJE Michel Temer está pegando um solzinho na base naval da restinga da Marambaia. Viajou acompanhad­o pelo “mínimo indispensá­vel” de pessoas para servi-lo e protegê-lo. São 38, inclusive cozinheiro e arrumadeir­a.

A Marinha tem um eficiente serviço de taifa e em seus quartéis a comida é boa. Não há taifeiro incapaz de arrumar um quarto.

Durante seu repouso o doutor poderia refletir sobre a história da Marambaia e o país que governa.

No século 19 aquela fazenda foi um viveiro de escravos contraband­eados pelo comendador José Joaquim Breves, um dos homens mais ricos do Brasil. Ele e irmão tiveram cerca de seis mil escravos e em suas terras o governo não mandava. Em 1851 foram capturados por lá 199 negros contraband­eados e seu advogado (Teixeira de Freitas) protestou: “Se isto continua, não vacila o reclamante em declarar que a vida e fortuna de numerosos cidadãos, assim como a paz e a tranquilid­ade do Império, correm iminente perigo”.

A abolição só veio em 1888 e, aos poucos, a fortuna dos Breves definhou. Seus bisnetos trabalhava­m para viver.

Como dizem os juristas e os gatos gordos apanhados pela Lava Jato: “Se isto continua...”

O litígio durou 20 anos, mas acabou a festa dos planos de saúde que engordam jogando seus clientes no SUS

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Juliana Freire

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