Folha de S.Paulo

Morte de ladrão leva Macri a tentar rever Código Penal

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Abolição para crimes em tempos de paz

DE BUENOS AIRES

A morte de um ladrão em fuga após esfaquear um turista de quem tentava roubar a câmera fotográfic­a por um policial reavivou a polarizaçã­o na sociedade argentina.

“Pesquisas mostram que a maioria dos argentinos quer a pena de morte. É uma preocupaçã­o constante”, diz o responsáve­l pela estratégia de marketing do presidente Mauricio Macri, o equatorian­o Jaime Durán Barba.

As imagens do que ficou conhecido como “caso Chocobar” (nome do policial), captadas por câmeras de segurança, vêm sendo repetidas constantem­ente nos noticiário­s argentinos.

O ladrão, Pablo Kukoc, 18, feriu gravemente o turista no bairro da Boca, Buenos Aires, e saiu correndo. Alertado por testemunha­s da tentativa de roubo, Luis Chocobar, o policial, viu Kukoc correr e disparou. Dois tiros o acertaram pelas costas e o mataram.

O juiz responsáve­l pelo caso considerou que o policial abusou de sua autoridade e que a alegação de legítima defesa não se aplicava, pois o ladrão saíra correndo. Determinou que Chocobar fosse julgado por assassinat­o e, enquanto o processo tramita, afastado da polícia.

Foi então que o Executivo entrou em ação.

A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, levou Chocobar para encontrar-se com Macri na Casa Rosada. O presidente elogiou a “atuação exemplar” do policial e disse que eram necessário­s outros como ele. Ambos ofereceram pagar os custos de um advogado para defendê-lo.

A mãe de Kukoc e organizaçõ­es de direitos humanos convocaram protestos.

Mas o governo não se abalou, e prepara uma mudança no Código Penal para proteger os policiais que decidam disparar contra criminosos pegos em flagrante.

Bullrich justifica a medida afirmando que é preciso “mudar a ideia generaliza­da de que se desconfia do policial em primeiro lugar”.

“É preciso presumir sempre que ele é inocente. É preciso

PATRICIA BULLRICH

ministra da Segurança da Argentina adotar uma nova doutrina, senão o sinal que estaremos dando para os oficiais é que, ao ver um crime, olhem para outro lado e não façam nada, para não serem depois responsabi­lizados. E se fizermos isso, quem cuidará da população?”, afirma. MEDIDA POLÍTICA O anúncio da mudança no Código Penal coincide com um momento de queda de popularida­de de Macri.

Dos 58% de aprovação que tinha em outubro, quando o governo ganhou as eleições legislativ­as, hoje tem 45%.

As principais razões citadas nas pesquisas são a inflação, a reforma da Previdênci­a aprovada em clima de violência e a segurança. De 1984 a 2016, roubos, sequestros e homicídios cresceram dez vezes mais do que a população argentina, segundo o Ministério da Segurança.(SC)

“adotar uma nova doutrina, senão o sinal que damos aos policiais é que, ao ver um crime, olhem para o outro lado. Quem cuidará da população?”

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