Folha de S.Paulo

Cidade menos populosa do Brasil oferece dois lanches gratuitos por dia

- DANIEL CAMARGOS

Enquanto os Estados ainda lutam para sair da crise, a realidade das cidades menos populosas do Brasil é bem diferente. Em Serra da Saudade (260 km de Belo Horizonte), os 812 moradores podem lanchar duas vezes por dia na cantina da prefeitura.

“Tem pão, manteiga, café e leite”, afirma o prefeito Alaor José Machado (PT). Os cafés da manhã e do início da tarde são tradições, servidos há tantos anos que Alaor, prefeito pela quarta vez, nem lembra de quando começou.

A conexão de internet wifi é liberada nas três praças da cidade. “A senha e o nome da rede ficam pregados em postes e nas paredes”, explica a assessora da atual administra­ção, Neusa Ribeiro, que também foi prefeita entre 2009 e 2016.

Isso ocorre porque sobra dinheiro. O coordenado­r de estudos de desenvolvi­mento urbano do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Constantin­o Mendes, explica que ser uma cidade minúscula é vantajoso quando se considera a relação entre o número de habitantes e o critério de repartição dos recursos do FPM (Fundo de Participaç­ão Municipal).

O dinheiro do fundo é distribuíd­o consideran­do vários fatores, sendo o principal deles a população. Municípios com até 10.888 moradores recebem o coeficient­e de 0,6. Menor a cidade, maior a receita de FPM per capita.

Serra da Saudade tem a maior arrecadaçã­o per capita do FPM no Brasil: R$ 10,6 mil. Em São Paulo é de apenas R$ 24,61 por habitante. “Existem distorções do lado da receita e da despesa”, diz Mendes, destacando que as cidades muito pequenas não têm outras fontes de receita.

Raither Lúcio, de 31 anos, nasceu na pequena cidade do centro-oeste mineiro e, apesar de estar empregado no único supermerca­do local, entende que um ponto negativo do lugar é a falta emprego. “Tudo aqui depende da prefeitura”, diz. Mas diz que a paz local compensa. Em quatro anos nenhum crime violento foi registrado.

Borá (488 km de São Paulo) tem FPM per capita de R$ 9.800, o segundo maior do país. No último censo do IBGE, em 2010, foram contabiliz­ados 805 habitantes. Porém, ganhou 34 habitantes em sete anos pelas estimativa do instituto. Já Serra da Saudade perdeu 3 moradores, passando de 815 para 812.

Apesar de Borá não ter desemprego —uma usina de açúcar que gera 1.200 vagas—, o prefeito Wilson Costa (PRB) reclama da dificuldad­e de conseguir emendas parlamenta­res. “É porque aqui tem muito pouco voto.”

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Eugenio Moraes - 27.ago.10/Jornal Hoje em Dia Serra da Saudade (MG), que dá café de graça a moradores

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