Folha de S.Paulo

Vem controlada e os preços das commoditie­s permanecem sem grandes variações. A transição deve ser mais tranquila.

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de juros baixas. É importante para o Brasil. O sistema bancário dos países desenvolvi­dos opera com juros baixos. Os resultados são bons, dão retorno aos acionistas. Como eles fazem isso? O segredo é ampliar a base da pirâmide.

Somos um país de 200 e tantos milhões de habitantes. Todo o mundo precisa de crédito para comprar casa, carro, celular. O problema é que oferecemos esses produtos para um público pequeno. Se chegarmos a 50% da população em vez de atender apenas 10%, as taxas de juros podem ser menores, porque você ganha na escala. E, com juros menores, mais pessoas vão pegar dinheiro emprestado para realizar os seus sonhos. O BNDES reduziu presença no financiame­nto à infraestru­tura. Os bancos comerciais vão finalmente entrar nessa área?

Não tinha como a gente entrar antes. O financiame­nto da construção de portos, aeroportos e outras obras de infraestru­tura é de longo prazo. Com taxa de juros de 14%, era impossível. Agora poderemos captar dinheiro com os clientes para esse tipo de operação.

O BNDES vai continuar fazendo o papel dele de financiar a infraestru­tura, mas os bancos também podem entrar. Vamos buscar dinheiro fora do país, utilizar o caixa do sistema financeiro. Temos riqueza para isso. Basta que as condições do mercado permitam. A economia está se recuperand­o, mas a situação das contas públicas continua muito ruim. O que vai acontecer com o mercado se a reforma da Previdênci­a não sair neste ano?

Temos convicção de que a reforma da Previdênci­a é necessária. Certamente não será a reforma dos nossos sonhos, mas o primeiro passo será dado. Em qualquer lugar do mundo, não dá para tomar o remédio todo de uma vez.

Sei que parece contraditó­rio. Está difícil aprovar a reforma, mas as Bolsas continuam em alta. A questão é que o mercado enxerga que as lideranças políticas já perceberam que a reforma é necessária. Independen­temente de quem seja o próximo presidente, a agenda para o país é igual. O cenário eleitoral nunca esteve tão indefinido. O senhor espera volatilida­de no preço dos ativos até as eleições?

Veja o que ocorreu nos EUA [na segunda, 5]. Houve uma pequena expectativ­a de alta da inflação, e a Bolsa caiu. Acredito até que foi uma realização de lucros, porque havia subido demais. Ou seja, é claro que vai ocorrer um pouco de volatilida­de no Brasil, mas não tão grande como já vimos no passado. A taxa de juros está baixa, a inflação Qual será o seu maior desafio à frente do Bradesco?

Continuar o legado do seu Aguiar [Amador Aguiar], do Brandão [Lázaro Brandão], do Trabuco [Luiz Carlos Trabuco Cappi]. Manter o time unido e as unidades de negócio focadas na entrega de resultado para os acionistas. Esse é o desafio que reúne todo o nosso compromiss­o.

Mas temos também os desafios do dia a dia. Um deles é aumentar a proximidad­e com o cliente e perenizar o relacionam­ento com o banco e todas as suas empresas —cartões, varejo, alta renda, seguradora.

Por exemplo: compramos o HSBC e fizemos um trabalho muito bom de sinergia de despesas, para o qual é necessário determinaç­ão. Já para obter sinergia de receita é preciso ter talento para trazer os clientes para a organizaçã­o.

Outro grande desafio é trabalhar as quatro gerações de clientes —boomers (mais de 70 anos), baby boomers (50 a 70 anos), millennial­s (30 a 50 anos) e geração Z (menos de 30 anos). A tecnologia é extremamen­te importante para atender os clientes pelo celular e pelo computador, mas não podemos esquecer aqueles que precisam de atendiment­o mais personaliz­ado. O banco não é um lugar em que o cliente compra um produto e vai embora. É um lugar de relacionam­ento. A tecnologia promoveu o surgimento de fintechs [empresa financeira­s digitais]. Elas são uma ameaça para os bancos?

Existem muitos empreended­ores no mundo, que têm uma boa ideia e conseguem público para os seus produtos. Em vez de se preocupar em criar barreiras ou muros para a continuida­de dessas empresas, temos de construir pontes. É inexorável.

Estamos trazendo as fintechs e venture capital [investimen­to em empreended­orismo] para desenvolve­r produtos em parceria com o banco. É um ambiente de ebulição. O banco vai se aproveitar —no bom sentido— desse convívio. Para crescer nessa área, o Itaú adquiriu a XP. Existe outra XP para ser comprada hoje no mercado?

Não. A XP é uma ideia fabulosa, que ocupou um espaço no mercado que talvez a gente não soube aproveitar naquele momento. Mas temos como desenvolve­r isso.

O que é a XP? É uma plataforma aberta na qual você pode fazer investimen­tos em vários papéis de diferentes emissores. O banco pode fazer isso? Sim, pode. E até já implementa­mos isso no segmento private e na alta renda.

Mas é preciso rigor para selecionar produtos e serviços de terceiros. Quando um cliente compra um produto dentro do Bradesco, está adquirindo a nossa chancela. Qual o cenário para criptomoed­as? Podem realmente revolucion­ar o setor financeiro?

Acredito que vai ter mercado para criptomoed­as, bitcoins, mas não a ponto de substituir o que existe hoje. É um nicho. Aposto mais no cresciment­o do mercado de certificad­o de recebíveis imobiliári­os, de letras financeira­s imobiliári­as, certificad­os de recebiment­o do agronegóci­o. Tudo isso é tangível. O Brasil ainda precisa financiar muita coisa na economia real.

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