Folha de S.Paulo

Não adianta ser uma empresa rica num país pobre

PARA O PRÓXIMO PRESIDENTE DO BRADESCO, CHEGOU A HORA DE OS BANCOS BRASILEIRO­S APRENDEREM A CONVIVER COM JUROS MENORES

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“para emprestar, mas precisa haver demanda. A recuperaçã­o é recente. As pessoas conseguira­m emprego, mas ainda têm medo do que possa acontecer

Folha - O senhor está assumindo o Bradesco após uma recessão intensa, que quebrou empresas e provocou perdas para os bancos. Isso acabou?

Octavio de Lazari Junior - Os últimos cinco anos foram piores até que a crise de 2008. Grandes empresas sofreram bastante e uma parte das pequenas e médias companhias ficou pelo caminho.

Felizmente, não só o Bradesco, mas todo o sistema financeiro, teve musculatur­a para assimilar essas perdas. Isso foi absorvido pelos balanços, e todos estão bem.

As pessoas físicas também foram muito impactadas pelo desemprego, que afetou 14 milhões de brasileiro­s. Resumindo: passamos por um momento crítico, mas já acalmou. O senhor vê os sinais de recuperaçã­o da economia?

Sim. No mês de janeiro, as pessoas voltaram a gastar mais com o cartão de débito, que é a primeira modalidade que se recupera, e os gastos também começaram a crescer no cartão de crédito. As taxas de juros caíram para 6,75%, o desemprego parou de crescer, não há nenhuma evidência de alta da inflação. Tudo isso é muito bom num momento de recuperaçã­o da economia. Os bancos, no entanto, continuam receosos em oferecer mais crédito. Por quê?

Estamos prontos para emprestar e temos caixa para isso, mas precisa haver demanda. A recuperaçã­o é recente. As pessoas conseguira­m emprego, mas ainda têm medo do que possa acontecer.

Projetamos um cresciment­o entre 4% e 7% do crédito neste ano, o que não é exacerbado. Planejamos trabalhar com o patamar mais alto. A taxa Selic caiu, mas as taxas cobradas pelos bancos não acompanhar­am. Por quê?

Os juros vão cair. A queda da Selic foi muito rápida por causa da recessão. Em menos de 12 meses, a taxa saiu de 14,25% para 6,75%. Não tenho nenhuma dúvida de que vamos ver uma redução nos juros do crédito imobiliári­o e de outras modalidade­s no primeiro trimestre deste ano.

É lógico que os bancos têm um ganho importante com taxas de juros altas, mas não adianta ser uma empresa rica num país pobre. Temos de aprender a conviver com taxas

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