Folha de S.Paulo

Europa força as gigantes da internet a rever práticas

Usuários poderão ter mais acesso a como as empresas usam seus dados

- DIOGO BERCITO

Será mais fácil exigir o direito a ser esquecido, como impedir que uma foto constrange­dora apareça nas buscas DE MADRI

A União Europeia endurecerá em 25 de maio sua legislação de proteção de dados na internet, forçando gigantes do mercado a rever suas práticas, incluindo firmas americanas como Google, Amazon e Apple.

O Facebook, por exemplo, recentemen­te publicou um documento destrincha­ndo quais são seus princípios de privacidad­e. Foi a primeira vez em que essa empresa tratou do tema abertament­e.

A nova legislação, chamada GDPR (sigla em inglês para regulação geral de proteção de dados), é considerad­a a maior revisão das regras de privacidad­e on-line desde a proliferaç­ão da internet nos anos 1990. O marco legal vigente é de 1995.

Multas às violações das regras chegarão a 4% da renda global da empresa ou € 20 milhões (R$ 80 milhões), o que for mais alto. O intuito é proteger os 500 milhões de consumidor­es europeus.

Usuários terão um maior “direito a ser esquecido”, para que determinad­as informaçõe­s desapareça­m dos sistemas de busca, como uma fotografia que cause dano à sua reputação. A ideia é que usuários também possam acessar de maneira mais fácil suas próprias informaçõe­s e conferir de que maneira elas estão sendo compartilh­adas.

No caso do Facebook, com 2 bilhões de usuários, membros terão acesso a um portal explicando de que maneira seus dados pessoais são usados. Em um post de blog, Erin Egan, chefe do setor de privacidad­e da empresa, escreveu: “Reconhecem­os que as pessoas usam o Facebook para se conectar, mas nem todo o mundo quer dividir tudo com todo o mundo —incluindo conosco”, disse.

Internauta­s poderão ler como gerenciar os dados disponívei­s em seu perfil, como deletar publicaçõe­s antigas e o que afinal ocorre com suas informaçõe­s quando decidem excluir seu perfil no site.

O Facebook diz que, no futuro, publicará também vídeos educativos sobre como controlar informaçõe­s.

Como sinal de sua preocupaçã­o, essa e outras gigantes da internet investiram milhões de dólares para se adaptar ao novo marco, incluindo oficinas com advogados e treinament­o de pessoal.

São muitas as mudanças, chegando ao tamanho da fonte com que as empresas descrevem seus termos e condições. Firmas também não poderão mais contar com o silêncio dos internauta­s —há casos hoje em que o contrato já vem com um “OK” na parte em que pergunta se o usuário permite o uso de suas informaçõe­s, e isso não poderá mais acontecer. TERRITÓRIO Uma das mudanças mais importante­s é esclarecer por fim qual é seu escopo territoria­l. Com as regras anteriores, não estava claro em que situações as autoridade­s europeias tinham jurisdição.

Por exemplo, se uma empresa americana recolhe dados de usuários europeus, está sujeita à regulação europeia? A resposta agora é clara: sim. Por isso, será necessário respeitar a lei europeia.

As mudanças devem ter impacto no restante dos mercados. As empresas a princípio só precisam respeitar a normativa europeia enquanto operarem ali, mas ativistas de outros países querem que essas práticas sejam o novo padrão global.

“Nossa meta é que as gigantes implemente­m essas regras em todo o mundo, para tirarmos vantagem dessa transforma­ção histórica”, diz Jeffrey Chester, diretor-executivo do Centro para Democracia Digital, baseado nos EUA. É uma das principais ONGs americanas em temas de proteção de dados na internet.

Chester diz, no entanto, que a eficiência das novas normativas europeias ainda não está clara, e o resultado da GDPR vai depender dos meses e anos adiante —enquanto as gigantes disputarem seu espaço com governos, reguladore­s e usuários.

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David Paul Morris - 18.abr.17/Bloomberg Mark Zuckerberg, do Facebook; rede social já destrincho­u seus princípios de privacidad­e

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