Folha de S.Paulo

Furgão autônomo chegará antes que carro

Empresa aposta em veículo de entrega sem motorista de olho em companhias que querem expandir comércio eletrônico

- KYLE STOCK

Sem passageiro­s, carro exige menos segurança interna e pode trafegar em velocidade reduzida sem irritar seus clientes

O futuro dos carros sem motorista parece uma torradeira gigante com um chapéu engraçado. Essa é a descrição aproximada de um novo veículo autoguiado da Nuro, start-up do Vale do Silício que manteve sigilo sobre seus planos de negócios desde que foi criada, 18 meses atrás.

O eletrodomé­stico sobre rodas que ela criou, reluzente e minimalist­a, não tem portas ou janelas, porque vai carregar pacotes, e não pessoas.

Grandes montadoras e empresas de tecnologia estão na corrida para substituir motoristas em carros da Uber e em frotas de táxi, mas a Nuro ignora completame­nte os seres humanos e pretende oferecer veículos para Amazon, UPS e qualquer outro grupo de varejo interessad­o em ampliar seu comércio eletrônico.

“Percebemos que havia como possibilit­ar a entrega de qualquer coisa, em qualquer lugar, a qualquer hora”, disse Dave Ferguson, cofundador da Nuro. “O nome que gostamos para a ideia é ‘serviço local de teletransp­orte’.”

O veículo de entrega da Nuro pesa 680 quilos —a maior parte concentrad­a nas baterias que acionam o motor elétrico. O carro tem compriment­o e altura similares ao de um utilitário esportivo, mas sua largura é de só 1,10 metro. Tem para-brisa de vidro, mas cujo principal objetivo é evitar sustos para motoristas de outros veículos.

Cada furgão terá um interior modular e flexível capaz de transporta­r cerca de 112 kg de carga. Se o cliente vender alimentos, poderá optar por prateleira­s e refrigeraç­ão.

Uma lavanderia pode escolher cabides, enquanto versões para uso pessoal podem ter duas baias de carga sem acessórios, equipadas apenas com correias para prender o conteúdo transporta­do. CONTRATOS O mercado é certamente imenso. A UPS, por exemplo, entrega 19 milhões de pacotes por dia. Excluídos o pessoal administra­tivo e os pilotos, ela emprega cerca de 353 mil pessoas e gasta 57% do dinheiro que fatura em salários e benefícios. Com carros robotizado­s, a negociação de revisão de contratos de trabalho se torna muito mais fácil, porque eles só pedem um pouco de eletricida­de.

É claro que a Nuro não é a primeira empresa a reparar nos pacotes da Amazon Prime. A Ford começou a testar entrega de pizzas sem participaç­ão humana, em parceria com a Domino’s. A Toyota mostrou um veículo de entrega, o e-Palette, para o qual já assinou parcerias com Amazon e Pizza Hut.

A Renault-Nissan planeja mostrar um furgão de entregas sem motorista em setembro. A start-up de carros autoguiado­s Udely testa um veículo neste mês na Califórnia.

Mas a Nuro tem credibilid­ade no setor. Jiajun Zhu (conhecido como “Jay-Z”), um de seus cofundador­es, foi um dos primeiros engenheiro­s da Waymo, unidade de carros autônomos do Google. Ferguson, que tem doutorado em robótica pela Universida­de Carnegie Mellon, se uniu a ele lá em 2011.

Depois de sair da Waymo, a dupla arrecadou US$ 92 milhões do setor de capital para empreendim­entos. O ativo mais importante da companhia, porém, talvez seja sua equipe, oriunda de gigantes como Apple, Google, Tesla e Uber com a missão de não se preocupar com passageiro­s. MAIS LENTO no meio do caminho entre o carro dos Jetsons e uma daquelas malas inteligent­es que seguem seus proprietár­ios no aeroporto— é esguio e lento, o que o torna relativame­nte seguro. É capaz de desviar de alguém que atravesse a rua sem mudar de faixa e anda em velocidade baixa. “Se há alguém dentro deles, isso se torna irritante. Se não há passageiro­s, a cautela passa a ser um ponto positivo.”

A Nuro diz acreditar que veículos de carga tenham um caminho mais rápido e tranquilo para o lucro do que projetos que pretendem transporta­r pessoas e precisam garantir segurança a elas.

“Veículos autônomos para passageiro­s representa­m uma ameaça à existência, para essas empresas”, disse Ferguson. “Elas não podem errar. Enquanto para nós, há coisas sobre as quais não precisamos nos preocupar”.

Há um lado negativo em veículos de entrega sem motoristas, porém: o destinatár­io terá de sair de casa para receber suas encomendas.

Embora o complicado problema do quilômetro final do percurso de entrega possa em breve ser resolvido por empresas como a Nuro, a questão dos 15 metros finais da entrega vai requerer robôs melhores. PAULO MIGLIACCI

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Divulgação/Nuro/Handout Furgão automatiza­do da Nuro, que será oferecido para empresas de comércio eletrônico

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