Folha de S.Paulo

Como antinacion­alista, afinal, o Carnaval é patrimônio para boa parte da população.”

- MARCELLA FRANCO

COLABORAÇíO PARA A FOLHA

O álbum de família denuncia: Valentina é uma veterana dos Carnavais. Seja montada no pescoço de um amigo ou mesmo portando o estandarte do bloco, as fotos dessa foliona de 1,42 m e 10 anos de idade provam que ela já tem mais confete e serpentina em seu currículo do que muito adulto por aí.

Boa parte dessa experiênci­a Valentina deve à mãe, Thais Haliski, 39, corretora de imóveis. Amante da folia desde criança, quando dançava marchinhas em matinês de clubes e desfiles no litoral, Thais transmitiu os genes festeiros para a filha, que começou a frequentar bailes quando ainda tinha apenas 2 anos. Dos salões para o asfalto, foi só questão de tempo.

“Gosto da vibração e da energia da rua. Já tomamos chuva juntas, já passamos aperto, já andamos muito pelo centro atrás de trios”, relembra Thais. “Isso forma nossa memória, e acredito que ela e eu vamos nos lembrar dessa fase com saudade. O Carnaval de São Paulo acontece em vários lugares históricos, e essa experiênci­a incrível não tem preço.”

Atualmente, Valentina acompanha a mãe nos ensaios e apresentaç­ões de três blocos: Confraria do Pasmado, Belém Belém e Acadêmicos da Cerca Frango, no qual a menina faz parte da ala da coreografi­a. Para Thais, Valentina gosta de criar relações, conhecer pessoas novas e THAIS HALISKI, 39 corretora de imóveis e mãe de Valentina, 10 DANIELA PASSOS FIGUEIREDO, 38 relações públicas e mãe de João, 7, e Heitor, 3. “curtir o momento com elas”.

“Ela circula pelo bloco. Quando se cansa, pede para subir no caminhão. Depois sai, dá mais uma volta, vem me dar um beijo. Quando o bloco é muito grande, sempre tem alguém conhecido com ela, para garantir que não desapareça na multidão”, diz a mãe, que acredita que, se vivido desde a infância, o Carnaval tende a se tornar algo natural na vida adulta.

A relações públicas paulista Daniela Passos Figueiredo, 38, diz que nunca foi fã do Carnaval, mas chegou a brincar em alguns blocos durante a adolescênc­ia. Depois que teve o segundo filho, no entanto, as coisas mudaram. “Criança é muito fácil de agradar, não precisa levar em bloquinho. Isso é coisa para adulto”, acredita ela, que é mãe de João, 7, e Heitor, 3.

“Os pais levam porque eles, pais, querem se divertir, mas é muito estresse e preocupaçã­o. Não dá para relaxar, não vejo sentido. Não tenho nada contra o Carnaval, mas, como sou do interior, a muvuca na cidade grande ainda me incomoda”, afirma.

Daniela diz que, quando João era pequeno, chegou a levá-lo a festas fechadas. “Ele brincou um monte com espuma, confete, bonecões, mas o local não era tão cheio, então eu podia deixá-lo mais solto.”

Hoje, para ela, o Carnaval de rua representa mais medo do que diversão. “Tenho receio de perder as crianças, de expor os meninos a coisas que não são para a idade deles. Gente muito bêbada, brigas.”

O mesmo motivo afastou o editor Adriano Camargo, 42, das avenidas. Pai de Alexandre, 6, ele conta que, em seu grupo de amigos no Whats App, dos 20 participan­tes, apenas um se animou a en- carar os blocos. “O problema é a falta de noção dos foliões, excesso de bebida, drogas, sexo na rua, pessoas urinando e defecando na calçada. Isso sem falar nos furtos.”

“Sei que estamos remando contra a maré, mas não vejo motivo de mostrar para eles algo que não faz sentido na nossa vida”, considera a estudante de psicanális­e Priscila Passareli, 34, mãe dos gêmeos Augusto e Bernardo, de seis meses e meio. “Falar que não concordo pega mal. Soa quase SEGURANÇA O Bloco da Catuaba, que desde 2016 sai no final de semana pós-Carnaval em São Paulo, estima um cresciment­o de foliões dos 50 mil iniciais para mais de 150 mil no desfile que fará neste ano na rua Augusta, no centro.

Mauricio Lima, 36, diretor do bloco, acredita que é possível levar crianças ao desfile com segurança. “Dá para curtir sem estar na ‘pipoca’. Desde a primeira edição, sempre houve famílias, pais com filhos de colo, carrinhos. São as novas famílias integrando os pequenos, sem preconceit­os, nem discrimina­ção.”

“O ambiente quem faz somos nós”, define Thais Haliski. “O Carnaval de São Paulo cresceu, e algumas pessoas têm receio de levar seus filhos, mas acho que é algo que traz a eles o sentimento de pertencime­nto. Sou mãe e óbvio que me preocupo, mas sempre converso com minha filha sobre cuidados básicos, e, como ela frequenta desde pequena, aprendeu a se localizar.”

A designer Fernanda Molinaro, 34, pesquisou bastante sobre blocos específico­s para crianças e deve levar o filho, Vicente, 2, a algum deles, neste Carnaval, pela primeira vez. “Acho que o Carnaval de rua é democrátic­o, todos podem conviver. Não é fundamenta­l que os pais levem, acho que é só mais um programa para que a família pode curtir junto.” Horários dos bloquinhos infantis ‣ 10h

Bloquinho Gente Miúda

‣ 9h às 11h

Bloquinho Urubózinho

‣ 10h às 14h

Bloquinho da Vila

‣ 8h às 16h

Bloquinho da Sucata

‣ 17h às 19h

Carnaval Infantil

‣ 13h às 18h

Erêtantã Bloco de Brincar ‣ 14h às 19h Os Cabecinhas Tântricos

“nossa memória, e acredito que ela e eu vamos nos lembrar dessa fase com saudade “

Os pais levam porque eles, pais, querem se divertir, mas é muito estresse e preocupaçã­o

 ??  ?? João, 7, e Heitor, 3, filhos de Daniela, 38, para quem a folia tem sido mais medo que diversão
João, 7, e Heitor, 3, filhos de Daniela, 38, para quem a folia tem sido mais medo que diversão

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil