Folha de S.Paulo

O raningue

- RICARDO ARAÚJO PEREIRA COLUNISTAS DA SEMANA: quinta: José Simão, sexta: Renato Terra, sábado: José Simão, domingo: Ricardo Araújo Pereira, segunda: Gregorio Duvivier, terça: José Simão

Hoje há aulas de body jam, body pump, body balance, body attack, body step. Sem exercício, seu body não fica

QUANDO EU era pequeno havia uma atividade física chamada “correr”. Era muito parecido com o actual running, mas creio que era mais barato. Não sei ao certo em que altura as pessoas deixaram de correr para passarem a praticar running, mas foi um processo gradual —que, aliás, passou pelo jogging.

Nos anos 90, as pessoas não corriam nem praticavam running: faziam jogging. Mas, por alguma razão, o jogging deixou de ser satisfatór­io, e a gente, não querendo voltar à velha corrida, evoluiu para o moderno running. Hoje é bastante difícil praticar esporte em português. Quem quer ir à academia fazer ginástica acaba por ter de se dedicar ao fitness, até porque só o fitness conduz à desejada wellness.

O caminho para a wellness pode passar pelo running, mas também por aulas de bike, que há não muito tempo se chamavam spinning. Parece-me que a bike está para o running como o spinning está para o jogging. Curiosamen­te, dizer essa frase dez vezes seguidas também proporcion­a um exercício completo.

Hoje há aulas de body pump, body balance, body jam, body attack, body step e body combat. Sem exercício, o seu body não fica, isso é certo. Mas a oferta é tão variada que se torna difícil escolher. Como optar entre jump, power jump e jump fit? Qual desses diferentes jumps me servirá melhor? Talvez seja mais acertado frequentar a aula de step, uma modalidade esportiva inspirada na embriaguez. Algum gênio viu um bêbado a tentar subir uma escada e a não conseguir passar do primeiro degrau e pensou: eu vou conseguir cobrar R$ 200 por mês a uma pessoa para a obrigar a fazer isto três vezes por semana.

Pessoalmen­te, não me deixo seduzir por exercícios em língua estrangeir­a. Eu sei que o chamam running, mas para mim eu continuo apenas a correr. E sempre achei que não fazia sentido correr a menos que a gente tivesse uma motivação. Por exemplo, correr atrás de uma bola. Ou à frente de um búfalo.

Essas são, para mim, as duas grandes modalidade­s de corrida: atrás de alguma coisa ou à frente de alguma coisa. Os bandidos estimulam ambas. É tão frequente correr à frente de bandidos, para lhes escapar, como correr atrás de bandidos, para os apanhar. Mas o running não tem objetivo. Por isso acabo por ficar em casa, a espreguiça­r-me. Atividade que, quando praticada numa academia, se chama stretching.

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Luiza Pannunzio

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