Folha de S.Paulo

Do campo.

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Existe alguma diferença muito grande entre os treinadore­s brasileiro­s e europeus?

São escolas diferentes de futebol, entendimen­tos diferentes. Mas não basta você ser um bom treinador dentro de campo, você tem que ser um gestor de grupo, principalm­ente em grandes grupos, com jogadores experiente­s, vencedores. Trabalhei com treinadore­s brasileiro­s que sabiam lidar com este tipo de situação como o Renato Gaúcho, no Fluminense. Era generoso com todo mundo, tratava a todos de forma igual.

Ter um comandante assim facilita muito o dia a dia. Tanto que chegamos à final da Libertador­es e tivemos uma derrota nos pênaltis. Outro treinador é o Tite, para mim um dos melhores com quem trabalhei. É uma grande satisfação estar trabalhand­o com um cara tão capacitado como ele, na parte de campo e na parte de lidar com os jogadores também. Aqui, no próprio Paris, e no Milan, tive o Ancelotti, outro técnico fantástico, o melhor de todos, principalm­ente no gerenciame­nto de jogadores. eu me dirigia aos jogadores, pela forma técnica de jogar também. O Felipão é um paizão, um cara super do bem. Até hoje troco e-mails com ele com frequência para perguntar como vai a família.

Eu tive algumas adversidad­es com o Dunga, quando ele retornou. Até hoje não sei o que realmente ocorreu para ele ter me deixado fora esse tempo todo. Muitos falam que o motivo foi ter colocado coisas no jornal para querer jogar. Mas nunca precisei desse tipo de situação. Também nunca reclamei por ter deixado de ser capitão. Fiquei chateado pelo treinador não ter vindo falar comigo. Mas não tenho nada contra o Dunga, muito pelo contrário.

Essas coisas que ocorrem são ensinament­os para a vida. O Tite, como disse, é fantásti- co. Com toda a sua inteligênc­ia, ele conseguiu fazer o grupo ter autoestima. Ele não fez muitas mudanças, mas na base da conversa ajeitou a casa. A dupla de zaga titular da seleção hoje é Marquinhos e Miranda. Ainda existe alguma brecha para você conseguir a vaga de titular até a Copa?

Os dois estão muito bem, dificilmen­te têm erros. O sistema defensivo da seleção brasileira está muito bem servido, tanto de zagueiros, quanto de laterais e do meiocampo, que dá suporte para se ter uma defesa sólida. Está tudo bem nesse sentido. Mas acho que dentro da seleção brasileira não tem titularida­de garantida, eu sei do meu potencial, eles sabem do deles. É trabalhar dia a dia, oportunida­des serão dadas, acredito que agora até menos porque a gente já está bastante próximo da Copa do Mundo. Mas todas as oportunida­des que eu tive, eu dei o meu melhor. O Brasil entra no Mundial da Rússia com a missão de apagar o 7 a 1 de 2014?

Apagar, nada vai apagar aquela derrota e a Copa do Mundo no Brasil, principalm­ente da maneira como nós terminamos [o Brasil foi eliminado na semifinal para a Alemanha, no Mineirão, após ser derrotado por 7 a 1].

Mesmo ganhando a próxima Copa, não temos como pegar uma borracha e apagar tudo aquilo. A gente pode minimizar ao máximo ganhando esse título tão sonhado. As reações à imagem do seu choro contra o Chile em 2014 prejudicar­am a sua carreira?

De alguma forma tentaram fazer com que de repente eu largasse o futebol, por exemplo. As pessoas olharam muito para esse lado e não viram o lado humano. Mas é uma coisa normal no futebol, cada um tem uma opinião. Como você vê a situação da CBF? O Marin está preso nos EUA, o Del Nero está sendo investigad­o e não pode viajar. Ele ainda é ativo no dia a dia com vocês jogadores?

Falar de política é muito delicado para a gente, principalm­ente se tratando de presidente da CBF, pois a gente não sabe exatamente o que aconteceu. A gente fica sabendo de boatos, disso ou daquilo, mas não sabe precisamen­te o que aconteceu. Mas o Del Nero está ativo, está sempre no vestiário, nos almoços que antecedem as partidas, dando total apoio para que possamos fazer exclusivam­ente o que a gente sabe dentro de campo.

Claro, com o apoio do Edu [Gaspar] também, que é uma pessoa fantástica que está com a gente nesse projeto. E o Marin foi um cara com quem eu tive uma identifica­ção muito grande, porque foi um que naquela Copa de 2014 esteve ao meu lado a todo momento. Mesmo depois dos 7 a 1, quando infelizmen­te eu não joguei. Mas as pessoas me colocam sempre como se eu tivesse jogado.

“apagar aquela derrota por 7 a 1 , principalm­ente da maneira como nós terminamos. Mesmo ganhando a próxima Copa, não temos como pegar uma borracha e apagar tudo aquilo. A gente pode minimizar a dor ganhando o título sonhado agora

Por falar nisso, você se sente aliviado por não ter jogado contra a Alemanha?

De alguma maneira, eu posso dizer que sim. Mas todo jogador gostaria de ter jogado aquele jogo. De repente, comigo, poderia ter sido oito, ou poderia ter sido seis, mas eu acho que eu não iria evitar a derrota. Da maneira que foi, acho que não evitaria.

Muitas pessoas me falaram, ou então eu li na imprensa, que forcei o cartão amarelo contra a Colômbia para não jogar uma semifinal de Mundial. Isso não existe.

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