Folha de S.Paulo

O clube Neymar

- PAULO VINÍCIUS COELHO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

O JORNAL “L’Equipe” divulgou na última terça-feira (6) os maiores salários do futebol francês. Adivinhou! Neymar está no topo da lista. A novidade é que a conversão do salário de 3 milhões de euros para reais indica que o maior craque brasileiro recebe, por ano, mais do que qualquer clube brasileiro ganha de direitos de TV pelo Brasileiro, exceto Corinthian­s e Flamengo.

Neymar arrecada R$ 150 milhões por ano, só de salário. Na assinatura do último contrato de TV, a informação que circulou foi de que corintiano­s e rubro-negros dividiam 26% do total e ficavam com R$ 170 milhões anuais, cada um.

“Tem de parar com essa história de que o Corinthian­s ganha isso tudo. São R$ 85 milhões e mais o payper-view”, diz o presidente corintiano, Andrés Sanchez.

“O Neymar ganha mais do que Corinthian­s e Flamengo também”, completa Andrés.

À parte este depoimento, é espantoso perceber a diferença. Neymar tem todo o direito de receber quanto seu empregador achar justo. Nada contra.

Mas é símbolo de como os clubes do Brasil distanciam-se ano após ano da elite europeia. É difícil competir quando se percebe que um jogador na França recebe mais do que todos os clubes do Brasil —ou quase todos.

Os acordos de transmissõ­es televisiva­s continuam sendo a maior fonte de receita no Brasil. A dependênci­a é maior do que em outros lugares do mundo. Em 2016, o Vasco teve 77% de sua arrecadaçã­o provenient­e dos contratos de TV.

Há duas décadas, os times ingleses dividem os ganhos de forma mais equilibrad­a. Um terço da televisão, um terço da bilheteria e das ações em dias de jogos, um terço de patrocinad­ores. Não só o anúncio na camisa. O Barcelona tem contrato para que seus jogadores usem automóveis Audi. Ganha por isso.

No Brasil atual, Flamengo e Palmeiras são os que apresentam o maior equilíbrio nas fontes de receitas. O clube carioca fez R$ 600 milhões em 2017. O Palmeiras faturou R$ 531 milhões. A terça parte vem da TV.

O Corinthian­s estacionou em R$ 380 milhões de receita por ano.

Na França, os direitos de televisão estão sendo renegociad­os agora e o Paris Saint-Germain vive fundamenta­lmente de seu proprietár­io, Nasser El-Khelaif.

No Qatar, Khelaif tem status de ministro sem pasta. Põe dinheiro de seu próprio bolso e do governo catari.

Repete a estratégia do Chelsea, do início da década passada. O russo Roman Abramovich e seu sócio, Boris Berezovsky, compraram a companhia petrolífer­a Sibneft em 1995, numa operação que fez parte do suspeito programa de privatizaç­ões do governo Boris Yeltsin, na Rússia.

Comprou o Chelsea em 2004 e levou oito temporadas até realizar o sonho de fazer o clube médio da Inglaterra tornar-se o primeiro time de Londres a ganhar a Copa dos Campeões da Europa.

Chelsea e PSG fazem parte de uma elite de clubes, junto com Barcelona, Real Madrid, Bayern, Manchester City e Manchester United.

Boca Juniors e River Plate recebem R$ 26 milhões/ano de TV. No Brasil, Corinthian­s e Flamengo faturam entre R$ 120 e R$ 170 milhões anuais de direitos de TV.

Sozinho, Neymar ganha mais do que todos os outros times da América do Sul.

Sozinho, o craque recebe mais que qualquer clube do país em direitos de TV, salvo Corinthian­s e Flamengo

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