Folha de S.Paulo

Os bárbaros esperam

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SÃO PAULO - Tempos interessan­tes, na acepção cínica do termo, vive o establishm­ent político ocidental. A empáfia da liderança conservado­ra no Reino Unido, que dava como certa a anuência bovina nas urnas para continuar tocando os negócios como sempre, foi castigada com o pesadelo do Brexit.

Nos EUA, um empresário gabola desceu da Trump Tower para subjugar oligarquia­s acomodadas na máquina centenária do Partido Republican­o. Depois arrematou a façanha ao colocar de joelhos a linhagem dourada do progressis­mo de nariz empinado, encabeçada por Hillary Clinton.

Dissolveu-se na Alemanha a antinomia entre social-democratas e democratas-cristãos, que marcou o pós-guerra naquele país. Juntaramse ambos num bloco para resistir ao assalto extremista, mas a fortaleza não dá garantias com prazo longo.

Na França, onde a união de socialista­s e gaullistas seria impraticáv­el e a ameaça da direita radical era mais concreta, o edifício das forças tradiciona­is veio abaixo numa implosão. Uma nova liderança, Emmanuel Macron, com um novo partido arrebatou o poder nacional num chofre.

Ecos dessas energias selvagens que levaram ao colapso arranjos partidário­s enraizados estarão presentes na eleição brasileira de outubro. Sem nunca ter feito campanha majoritári­a, o vingador Jair Bolsonaro é a única certeza de presença no segundo turno se a eleição fosse hoje.

A centro-esquerda fez uma aposta de 30 anos numa só liderança e agora está a um passo da pulverizaç­ão, debilidade que acomete a centro-direita já faz algum tempo. À direita e à esquerda, forças tradiciona­is resistem à renovação e à autocrític­a.

Partidos passam a mão na cabeça de correligio­nários que tiveram a reputação fulminada em escândalos de corrupção. Condenados e investigad­os por gravíssima­s imputações continuam filiados, alguns dando cartas nas negociaçõe­s políticas. Enquanto isso, os bárbaros esperam. vinicius.mota@grupofolha.com.br

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