ENTREVISTA DA 2ª Hoje não se justifica mais gravar disco, não vende
SAMBISTA, QUE FAZ 80 ANOS NESTA SEGUNDA, PREPARA PROJETOS DE COMEMORAÇÃO E CRITICA AÇÕES DE CRIVELLA NO CARNAVAL
Paulo, vira líder sindical, é preso pela ditadura, resolve ser presidente do Brasil, perde três vezes, depois ganha.
Com o Lula presidente, qualquer família pobre com filho pode falar “esse cara ainda pode ser presidente”. Tudo isso dá um enredo fantástico. Essa fase atual eu não sei como colocaria. O enredo tem que contar a história inteira, então é melhor não fazer agora. O documentário dedicado ao sr. [“O Samba”, 2014] traz um depoimento de Aécio Neves. Como o conheceu?
Ele é muito amigo, conheci quando ainda não tinha ocupado nenhum cargo político. O Sérgio Cabral também, já conhecia desde pequeno, por causa da família. A gente foi para a Rússia, para um festival da juventude socialista [12º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, em 1984]. E a gente fez amizade. Eles se tornaram políticos logo depois e eram dois jovens de quem os cariocas gostavam muito.
Sonhava-se com um dos dois na Presidência. O Aécio chegou a concorrer, mas depois... Deu no que deu. O Cabral também deu no que deu. Eu só fico triste, mas fui bastante amigo deles e tenho uma certa consideração por eles. O sr. se decepcionou com eles?
É uma decepção total, né? É como um fã meu que não pensa que eu vou cometer um ato baixo, entendeu? Se acontecesse isso, que Deus me livre, o cara ficaria triste, não conseguiria festejar a minha derrota. Eu também não consigo festejar a prisão do Cabral. Quando ele foi preso com os pés algemados, aquilo me causou um mal-estar tão grande. Ele merece estar preso, tenho certeza. Mas aquilo é um absurdo. É essa bagunça que está a nossa Justiça. O sr. é um ícone e difusor da cultura negra. Como é ser negro no Brasil hoje?
Muito melhor do que quando eu era criança e adolescente. Os negros eram perseguidos de tudo quanto é jeito. Se eu andasse com esse cabelo assim que eu tô, a polícia me parava. Tinha de andar de cabelo comportadinho. De barba, nem pensar [risos]. A polícia ia em cima e, se eu não tivesse emprego, era preso por vadiagem. Era uma coisa terrível. Os militantes do movimento negro conseguiram reverter bastante esse quadro, embora ele ainda não esteja no ponto ideal.
Agora, nosso problema é trabalho. Até hoje temos empresas no Brasil que nem empregam negros. Você vê o retrato do governo do Brasil, de qualquer Estado ou prefeitura, não tem negros.