Folha de S.Paulo

Exemplo a ser dado

-

BRASÍLIA - Por mais que equívocos possam ser apontados, a Lava Jato é a mais simbólica cruzada judicial anticorrup­ção da história do Brasil.

Justamente por isso soa estarreced­or que alguns de seus condutores se escondam atrás de respostas escapistas para justificar o injustific­ável.

Os juízes Sergio Moro, Marcelo Bretas, Leandro Paulsen e Victor Laus e o procurador Deltan Dallagnol, todos da linha de frente da Lava Jato, recebem R$ 4.378 de auxíliomor­adia mesmo tendo casa própria.

Eles já têm um dos maiores contracheq­ues da República, algo em torno de R$ 30 mil ao mês. Além do auxílio-moradia, são tantos os pendurical­hos que só com muito esforço um magistrado ou procurador em igual nível conseguirá receber abaixo do teto constituci­onal de R$ 33,7 mil.

Vá ao site do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e clique em “remuneraçã­o de magistrado­s”. Moro, por exemplo, teve em dezembro salário bruto de R$ 41 mil, engordado por auxílio-moradia (R$ 4.378), auxílio- alimentaçã­o (R$ 884), gratificaç­ão por exercício cumulativo (R$ 4.181) e “gratificaç­ão por encargo, curso/ concurso” (R$ 2.656).

Laus, um dos desembarga­dores que majoraram a pena de Lula em um terço, teve em dezembro salário de R$ 106 mil, encorpado principalm­ente por R$ 59,6 mil da tal “gratificaç­ão por encargo, curso/concurso”.

A resposta padrão de todos é que, com base em liminar de Luiz Fux, o CNJ não veda o auxílio a quem tem casa. Moro foi além e disse que, mesmo discutível, o benefício compensa a falta de reajuste salarial. Se os sabidament­e mal remunerado­s policiais ou professore­s, por exemplo, tentassem uma pedalada dessas, seriam merecidame­nte recriminad­os.

O que dizer de juízes que recebem os mais altos salários da República?

Se usarem o mesmo rigor destinado a seus alvos, os líderes da Lava Jato devem não só abrir mão do auxílio, mas devolver aos cofres públicos tudo que receberam desde 2014, acrescido de um necessário mea-culpa.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil