Tarsila para o mundo
Pela arte, a pintora bebeu de outras culturas, as digeriu e se expressou sendo brasileira, sendo mulher, sendo antropófaga
O Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) inaugurou neste domingo (11) a mais expressiva exposição de Tarsila do Amaral (18861973) já realizada no exterior. Não é exagero afirmar que as 120 peças reunidas em “Inventing the Modern Art in Brazil” apresentam a artista para o mundo.
Muito se tem feito para tornar reconhecido o legado de Tarsila , primeiro entre os brasileiros, por meio de exposições, mostras, publicações e licenciamentos de marca.
Hoje é comum ver crianças do Brasil inteiro reconhecerem suas obras. Pelas cores e formas orgânicas, Tarsila estabelece um diálogo quase que imediato com o público infantil.
A mostra nova-iorquina oferece a possibilidade de novas leituras para o trabalho desta artista que, acima de tudo, amou seu país. Desejou ser a pintora do Brasil.
Uma mulher que no início do século passado foi um dos principais nomes do movimento modernista, ao lado de Oswald e Mário de Andrade, inspirando e pensando a grandiosidade do próprio país. Embora discreta, inspirou também o comportamento feminino de vanguarda, por meio de seus atos.
Pela arte, bebeu de outras cultu- ras, as digeriu e se expressou sendo brasileira, sendo mulher, sendo antropófaga. Filha de aristocratas, ousou transitar fora da própria bolha social, escutando e reconhecendo a pertinência de um olhar político inclusivo. Essa postura se refletiu em quadros como “Operários”.
Tarsila ousou viver fora das linhas que naturalmente a condicionariam como mulher, como mulher brasileira, como mulher brasileira e filha de aristocratas.
Em seu diário afetivo, colou a fotografia de uma mulher negra que trabalhava para sua família, referência inquestionável para uma de suas obras mais importantes, “A Negra”, talvez a mais festejada na abertura da exposição nos EUA.
Entre o branco e o preto, Tarsila optou pelas cores e mostrou o país por meio do colorido caipira e das temáticas rural e urbana brasileiras.
Tarsila foi mulher. Criou a tela “Abaporu” para dar de presente de aniversário a Oswald de Andrade, seu marido na época. Uma imagem que levou à criação do Manifesto Antropófago, fonte inesgotável de inspiração para a arte brasileira.
Ainda há muito a se descobrir na obra de Tarsila do Amaral. Por isso, a abertura da exposição no MoMA é mais um marco para a arte e os artistas brasileiros. Como representante dos direitos da família, afirmo que é nossa missão fazer Tarsila ser reconhecida em todo o mundo.
Nesse movimento, há sete anos, quando estive em Chicago, sugeri uma exposição ao The Art Institute of Chicago. Na época, a curadora, Steephanie D’Alessandro, afirmou que só a faria com apoio de Luis Peréz-Oramas, então curador no MoMA. Hoje celebramos esse lançamento ao lado desta dupla de inquestionável conhecimento da arte moderna latino-americana.
Outros conteúdos sobre Tarsila do Amaral, facilitados pela família, estão por chegar ao grande público, inclusive no cinema. Que a trajetória vanguardista desta mulher brasileira possa seguir motivando artistas, mulheres e homens em todo o mundo. TARSILINHA DO AMARAL Diretor da PF A fala do diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, sobre a investigação ainda em andamento que envolve o presidente da República, Michel Temer, expôs a instituição, que está bem conceituada por conta de sua eficiência e rapidez em investigações (“Inquérito poupa sigilo bancário de Temer”, “Poder”, 12/2). Acredito que, diante de sua opinião, Segovia deveria pedir demissão do cargo.
MARIA HELENA BEAUCHAMP
Reformas Decepcionante o editorial da Folha (“Outras reformas”, 12/2), que, como toda a imprensa, despreza a defesa da reforma tributária, de extrema necessidade por atingir por longa data os assalariados mais pobres.
JASON CÉSAR DE SOUZA GODINHO
LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENTO AO ASSINANTE: OMBUDSMAN: Estrutura do Judiciário Muito bom o texto de Eduardo Passos (“Painel do Leitor”, 12/2). É importante lembrar também que os juízes de primeira ou segunda instância são concursados, dotados de bastante conhecimento jurídico e geralmente muito competentes. Já os ministros do STF são indicados pelo presidente da República, quase sempre sob forte interferência política.
CECÍLIA MORICOCHI MORATO
Violência doméstica A cultura da violência contra a mulher relatada no artigo nos assombra (“Um grito de dor no meio da multidão”, “Tendências / Debates”, 11/2). Quando vemos que até mesmo na rica e culta França há vozes que se levantam contra campanhas que denunciam o assédio e a violência contra as mulheres, percebemos o longo caminho que temos de percorrer no Brasil para que a mulher — menina, adolescente e adulta— seja respeitada como pessoa e cidadã, e não tratada como simples objeto de desejo ou posse.
DARCIO DE SOUZA