Folha de S.Paulo

Flerte com Boulos sofre resistênci­a no PSOL

Articulaçã­o do líder dos sem-teto para disputar a Presidênci­a pelo partido gera crítica por ‘proximidad­e com Lula’

- CATIA SEABRA

Sigla não pode se tornar ‘puxadinho do MTST’, diz professor Plínio Filho, que quer disputar eleição para presidente

O líder do PSOL na Câmara dos Deputados, Ivan Valente (SP), disse, na última sexta-feira (9), que o coordenado­r do MTST (Movimento dos Trabalhado­res Sem Teto), Guilherme Boulos, deverá informar até o fim de fevereiro se aceita concorrer pelo partido à Presidênci­a da República.

Em entrevista à Folha, publicada na quarta (7), Boulos afirmou que se avançou bastante nos debates junto ao PSOL “para que se possa consolidar uma candidatur­a”. E acrescento­u: “Se esse entendimen­to confluir para uma candidatur­a, eu vou assumir”.

Esse avanço provocou, no entanto, trepidaçõe­s no PSOL, lançando estilhaços sobre o PT e os movimentos de esquerda.

Um dos pré-candidatos do PSOL à Presidênci­a, o professor Plínio de Arruda Sampaio Jr. queixou-se de um “atropelo” da legenda na negociação com o Boulos.

Segundo Plininho, como é conhecido, Boulos se filiaria ao partido depois de encerrados os prazos para disputa interna do PSOL. “Se Boulos en- tra no partido como um pirata, o ganho do PSOL é nulo. O partido se transforma em um puxadinho do MTST. Acaba”, criticou ele, filho de Plínio de Arruda Sampaio, que disputa a Presidênci­a pelo partido em 2010.

Plininho reclama ainda da timidez de Boulos na crítica ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Para ele, a “proximidad­e orgânica de Boulos com Lula e o PT” contraria a proposta de construção de uma esquerda fundada em oposição às práticas petistas. “Boulos acha que a história absolverá o Lula. Eu, não. E o PSOL terá que decidir se quer ser uma esquerda contra a ordem ou um PT recauchuta­do, um lulismo requentado.”

Ivan Valente nega, por sua vez, que a negociação com Boulos ocorra à revelia dos filiados, alegando que o comando partidário recebeu delegação para escolha de seu candidato. Segundo o deputado, a articulaçã­o conta com o apoio de 80% do partido.

Para ele, os críticos da es- tratégia são propagandi­stas doutrinári­os desatentos à realidade brasileira. “Não basta fazer propaganda sem incidir na sociedade”, afirma o líder do PSOL.

Valente diz ainda que “está enganado quem acha que o PT acabou”. “Se o Lula não for candidato, pode ser que uma parte desses eleitores migre para um nome da esquerda consistent­e.”

Hoje, cerca de 13 parlamenta­res do PSOL apoiam formalment­e a candidatur­a de Plininho à Presidênci­a, sob o argumento de que é necessário afastar-se do PT. Vereador pelo PSOL do Rio, Renato Cinco diz que a candidatur­a de Boulos permite uma associação com o petismo.

Ele também reclama do método para escolha do candidato, definido em convenção partidária.

O deputado estadual Marcelo Freixo (RJ) argumenta, porém, que a resolução que fixa essas regras foi alvo de discussão interna. “A partir do momento que o partido escolhe um candidato, e eu espero que seja o Boulos, o debate com todo o partido se faz para que todos entrem na campanha normalment­e”, diz Freixo.

A costura da candidatur­a de Boulos abalou uma fatia do PT, que teme fragmentaç­ão da esquerda no momento em que Lula está sob ameaça de prisão. Aliados do expresiden­te se dedicam à redação de um manifesto pela unidade dos movimentos e partidos de esquerda em defesa do petista e contra a reforma da Previdênci­a.

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Avener Prado - 5.fev.2018/Folhapress O principal líder do Movimento dos Trabalhado­res Sem-Teto, Guilherme Boulos, que cogita disputar a Presidênci­a da República pelo PSOL em outubro

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