Folha de S.Paulo

Zuma tem 48 horas para renunciar, diz partido

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Após 8 horas de reunião, CNA entrega ultimato a presidente sul-africano, acusado de corrupção

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O partido governista Congresso Nacional Africano (CNA) deu ao presidente sulafrican­o, Jacob Zuma, 75, o prazo de 48 horas para que renuncie, do contrário será retirado do poder, informou a TV estatal SABC nesta segunda-feira (12). Até o fechamento desta edição, Zuma não havia se pronunciad­o.

Após uma reunião emergencia­l de mais de oito horas da executiva do partido em um hotel em Pretória, capital administra­tiva da África do Sul, o líder do CNA e vice-presidente, Cyril Ramaphosa, entregou o ultimato pessoalmen­te a Zuma em sua residência.

“Obviamente alcançamos o fim da rua com o homem, vamos fazer o seu ‘recall’”, disse um membro da executivo ao canal sul-africano News 24 antes do início da reunião. ‘Recall’ é o termo usado no país para o procedimen­to de retirada do poder do presidente.

Horas antes, a SABC havia dito que Zuma havia concordado em renunciar e que os detalhes sobre como proceder estavam sendo discutidos. Porém, o porta-voz do presidente, Bongani Ngqulunga, qualificou o relato de “fake news” (notícia falsa). Ramaphosa, 65, diz que tem mantido conversas com Zuma sobre uma transferên­cia de poder e havia afirmado que a reunião da executiva do CNA era para “finalizar” a situação.

A executiva do partido tem autoridade para ordenar Zuma a renunciar, mas a mídia local especula que ele ainda pode resistir.

“Zuma não é apenas uma pessoa. Ele é um sistema. Há muita gente cuja fortuna política está ligada à dele”, afirmou o analista político Ralph Mathekga ao diário britânico “The Guardian”.

“Estamos assistindo a uma batalha pela alma do CNA. É um referendo sobre a verdadeira balança de poder dentro do partido”, acrescento­u.

Zuma sobreviveu à pressão do CNA no ano passado para renunciar, mas analistas dizem que desta vez o apoio à renúncia é maior.

Presidente do país desde 2009, Zuma enfrenta pressão do partido e da oposição para renunciar ao cargo em meio a uma série de denúncias de corrupção.

Na semana passada, o Parlamento adiou o Discurso sobre o Estado de União que ele faria e deve votar no dia 22 uma moção de não confiança para tirá-lo do cargo.

Caso a renúncia se confirme, Ramaphosa —ex-líder sindical que se tornou um dos empresário­s mais ricos do país mas que adotou um discurso anticorrup­ção— deve assumir a Presidênci­a até o fim do mandato, em 2019.

Na opinião do especialis­ta em política sul-africana Richard Calland, da Universida­de de Cidade do Cabo, a saída de Zuma daria a Ramaphosa “a chance de reconstrui­r governo e partido ao mesmo tempo”, disse no “Guardian”.

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Rodger Bosch - 11.fev.2018/AFP Protesto a favor do presidente do CNA na Cidade do Cabo

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