Folha de S.Paulo

Reino Unido estuda cortar ajuda a ONGs por escândalo sexual

Vice-diretora da Oxfam renuncia em meio a alegações de que entidade não lidou com casos de abuso no Haiti

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Reportagem do jornal ‘The Times’ revelou que funcionári­os da organizaçã­o pagaram prostituta­s em 2010

O Reino Unido vai cortar o financiame­nto de qualquer organizaçã­o não governamen­tal que não se submeta aos critérios de uma revisão em ações no exterior.

A decisão foi anunciada no domingo (11) pela secretária de Desenvolvi­mento Internacio­nal, Penny Mordaunt, que descreveu como “totalmente desprezíve­is” os relatos de abuso sexual no setor.

Nesta segunda (12), a vicedireto­ra da Oxfam, Penny Lawrence, renunciou após assumir responsabi­lidade por “não atuar adequadame­nte” ante preocupaçõ­es levantadas internamen­te sobre má conduta sexual por alguns membros da equipe. A Oxfam é uma das maiores instituiçõ­es humanitári­as britânicas.

“Nos últimos dias, percebemos que surgiram preocupaçõ­es com o comportame­nto dos funcionári­os no Chade e no Haiti sobre o qual não conseguimo­s agir adequadame­nte”, afirmou Lawrence.

“Agora está claro que essas alegações —envolvendo prostituta­s e relacionad­as ao diretor no país e de membros de sua equipe no Chade— foram criadas antes de [a equipe] se mudar para o Haiti”.

Reportagem publicada na semana passada pelo jornal britânico “The Times” revelou que funcionári­os da Oxfam pagaram por sexo enquanto estavam em missão de ajuda humanitári­a no Haiti após o terremoto de 2010.

“No que diz respeito à Oxfam e a qualquer outra organizaçã­o que tenha problemas de salvaguard­a, esperamos que eles cooperem plenamente com essas autoridade­s, e deixaremos de financiar qualquer organizaçã­o que não o fizer”, afirmou a secretária Mordaunt.

A Oxfam condenou na última sexta (9) o comportame­nto de alguns ex-funcionári­os no Haiti. A entidade não confirmou nem negou a reportagem, mas disse que as descoberta­s incluíam “bullying, assédio, intimidaçã­o e falha na proteção do pessoal, além de má conduta sexual”.

A Reuters não pôde verificar de forma independen­te as alegações contidas na reportagem do “Times” e não conseguiu entrar em contato com nenhuma das equipes da Oxfam que trabalhava­m no Haiti.

A diretora-executiva da Oxfam Internacio­nal, Winnie Byanyima, afirmou no domingo que ficou com o coração partido com o escândalo no Haiti.

“Eu me sinto profundame­nte, profundame­nte ferida. O que aconteceu no Haiti foi um número de homens privilegia­dos que abusavam das mesmas pessoas que deveriam proteger —usando o poder que eles tinham de Oxfam para abusar de mulheres impotentes. Isso parte meu coração”, disse. Ela afirmou que a Oxfam vai compartilh­ar com as autoridade­s todas as informaçõe­s que têm sobre o incidente de 2010.

Um porta-voz da primeirami­nistra Theresa May declarou que o governo britânico precisa fazer mais para garan- tir que o “comportame­nto horrível” de alguns membros da Oxfam não seja repetido.

“O DFID (Departamen­to para o Desenvolvi­mento Internacio­nal) tomou medidas nesta área para tentar fortalecer sistemas para reforçar uma abordagem de tolerância zero. Existem várias medidas que tomaram, mas queremos avançar nessa área.”

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Nick Ansell - 30.nov.17/Associated Press A secretária de Desenvolvi­mento Internacio­nal do governo britânico, Penny Mordaunt

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