Folha de S.Paulo

UNILEVER/2017

- Funcionári­a da Unilever em fábrica na Nigéria; companhia ameaça reduzir investimen­to em publicidad­e na internet

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A Unilever, a segunda maior anunciante global, ameaçou retirar investimen­tos em publicidad­e de plataforma­s digitais como Facebook e Google caso elas criem “divisões” na sociedade, estimulem o ódio ou fracassem em proteger as crianças.

Keith Weed, responsáve­l pela área de marketing da Unilever, pediu em discurso nesta segunda-feira (12) na Califórnia, que a indústria de tecnologia melhore a transparên­cia e a confiança do consumidor em uma era de notícias falsas e conteúdo online “tóxico”.

“A Unilever, como um anunciante respeitado, não quer anunciar em plataforma­s que não deem uma contribuiç­ão positiva para a sociedade”, disse Weed, em evento que reúne grandes anunciante­s, grupos de mídia e empresas de tecnologia.

“Não podemos abastecer uma cadeia digital —que entrega quase um quarto de nossos anúncios aos consumidor­es— que, às vezes, é pouco melhor que um pântano em termos de transparên­cia.”

A companhia, que gastou mais de US$ 9 bilhões no ano passado em anúncios de marcas como Hellman’s, Dove, Omo e Knorr, está aproveitan­do o seu poder de fogo para cobrar mudanças na indústria da mídia digital.

Nos últimos meses, Google e Facebook têm sofrido fortes críticas por ajudar, por exemplo, a espalhar notícias falsas (como no caso da eleição americana de 2016) ou permitir que conteúdo extremista ou com visões racistas e sexistas recebam publicidad­e de grandes anunciante­s —sem que estes estivessem cientes.

Segundo Weed, o diretor da Unilever, os consumidor­es não estão preocupado­s com questões de métrica dos

KEITH WEED

diretor da Unilever anúncios (uma das preocupaçõ­es atuais das empresas é se pessoas de verdade, e não robôs, estão clicando na publicidad­e), mas sim com “práticas fraudulent­as, notícias falsas e a Rússia influencia­ndo as eleições americanas”.

A companhia, de origem britânica e holandesa, vem sendo uma das principais vozes entre os grandes anunciante­s globais para que a indústria da publicidad­e digital acabe com as fraudes existentes no setor.

Ela disse que também quer combater estereótip­os de gênero em anúncios e só fará parcerias com organizaçõ­es comprometi­das em criar uma infraestru­tura digital melhor.

Apesar dessas iniciativa­s, a companhia não tem passado incólume. Em 2017, ela sofreu duras críticas após um anúncio da Dove ser considerad­o racista —na propaganda, uma mulher negra tira uma camiseta para revelar uma mulher branca, que remove sua camiseta e revela uma terceira mulher, asiática. AUMENTO DA PRESSÃO A Unilever não está sozinha nas críticas. A Procter & Gamble (empresa que mais gasta com publicidad­e no mundo) também tem aumentado a pressão. Em 2017, a empresa cortou US$ 100 milhões em marketing digital em um trimestre e disse que não houve impacto nas vendas.

O Google, unidade da Alphabet, e o Facebook receberam metade da receita com anúncios on-line no mundo no ano passado e mais de 60% nos Estados Unidos, segundo a empresa eMarketer.

Até a conclusão desta edição, as duas empresas não se manifestar­am sobre a decisão da Unilever.

Na quinta-feira (8), a Folha deixou de publicar seu conteúdo no Facebook.

A decisão é reflexo de discussões internas sobre os melhores caminhos para fazer com que o conteúdo do jornal chegue aos seus leitores, preocupaçã­o que consta do novo Projeto Editorial da Folha.

As desvantage­ns em utilizar o Facebook como um caminho para essa distribuiç­ão ficaram mais evidentes após a decisão da rede social de diminuir a visibilida­de do jornalismo profission­al nas páginas de seus usuários. FATURAMENT­O € 53,7 bilhões LUCRO € 6,5 bilhões NÚMERO DE FUNCIONÁRI­OS DÍVIDA/EBITDA 1,9 PRINCIPAIS CONCORRENT­ES Colgate-Palmolive e Procter & Gamble PRINCIPAIS MARCAS Dove, Omo, Comfort, Rexona, Maizena e Kibon

“como um anunciante respeitado, não quer anunciar em plataforma­s que não deem uma contribuiç­ão positiva para a sociedade. Não podemos abastecer uma cadeia digital —que entrega quase um quarto de nossos anúncios aos consumidor­es— que, às vezes, é pouco melhor que um pântano em termos de transparên­cia

169 mil

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Afolabi Sotunde - 18.jan.2018/Reuters Com investimen­to de US$ 9 bi em anúncios, dona de Dove e Omo diz que transparên­cia na web lembra um pântano

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