Folha de S.Paulo

‘Velha guarda’ garante sucesso do axé

Ritmo não conta com novos ícones desde o surgimento de Claudia Leitte, mas segue como sucesso no Carnaval

- JOÃO PEDRO PITOMBO

Festa de Salvador conta hoje com outros ritmos de destaque, como pagode baiano e música com batida eletrônica

O cantor Bell Marques não se cansa. Com sua tradiciona­l bandana na cabeça e guitarra em punho, despontou no Farol da Barra às 18h da quinta (8) de Carnaval e só vai parar na terça (13), após seis desfiles consecutiv­os.

Aos 65 anos, o antigo vocalista do Chiclete com Banana sintetiza o atual momento da axé music no Carnaval de Salvador: ritmo com lugar garantido nos trios elétricos, mas que tem artistas veteranos como seus principais ícones.

Bell Marques e Carlinhos Brown, 65, completarã­o no próximo ano 40 Carnavais. Foram seguidos por Durval Lélys, 60, Daniela Mercury, 52, Ivete Sangalo, 45, Saulo Fernandes, 40, e Claudia Leitte, 37 —última grande cria dos trios elétricos que começou a fazer sucesso em 2001.

Por trás do atual momento da axé music está a trajetória de uma indústria que deu seus primeiros passos nos anos 1980, chegou ao auge no final dos anos 1990 e começou a entrar em declínio a partir da década de 2010.

O declínio fez com que não houvesse renovação dos artistas. Os jovens que hoje se dedicam ao axé são remanescen­tes de velhas estruturas, caso de Felipe Pezzoni, da Banda Eva, e de Rafa e Pipo Marques, filhos de Bell.

Por outro lado, o Carnaval se abriu para outros ritmos de matriz baiana, como o arrocha e o pagode, que ganharam o público e emplacaram a maioria dos hits dos Carnavais recentes —de “Rebolation” em 2010 a “Santinha” em 2017, passando por “Lepo Lepo” em 2014 e “Metralhado­ra” em 2016”.

Filho dos sambas de roda da Bahia, o pagode baiano é o ritmo que mais ganha espaço. A vertente carnavales­ca que surgiu nos anos 1990 com o É o Tchan e consolidou-se nos anos 2000 com o Harmonia do Samba.

Leo Santana, 29, é o principal expoente da nova geração. Com sucessos como “Santinha”, tornou-se um dos artistas que mais mobiliza o público no Carnaval de Salvador. Na quinta (8), foi acompanhad­o por multidão em trio sem cordas e na sexta (9) estreou no tradiciona­l bloco Nana Banana.

Enquanto o pagode prota- goniza o mainstream, a porta se abre para sons mais alternativ­os —a BaianaSyst­em faz quatro apresentaç­ões e se tornou um dos desfiles mais concorrido­s do Carnaval.

Neste ano, a banda Àttooxxá surge como novidade, misturando pagode com batidas eletrônica­s em “Elas gostam (popa da bunda)”, em parceria com o Psirico.

“É momento muito bom. A Bahia começa a sair da monocultur­a para voltar a uma diversidad­e que sempre foi a sua marca”,diz o produtor artístico Andrezão Simões. REPERTÓRIO Se o axé anda em baixa no quesito indústria, o mesmo não se pode dizer da força musical no reinado de Momo.

Como apontado em reportagem da Folha, o ritmo não figura entre as dez canções mais ouvidas no período de Carnaval desde 2013, segundo levantamen­to feito pelo Google no Youtube.

Por outro lado, o repertório construído ao longo de três décadas de axé se firmou, ao lado das marchinhas, como importante trilha sonora da folia em todo o país.

Não à toa, em 2017, Carlinhos Brown foi o artista que mais arrecadou direitos autorais no Carnaval no Brasil, segundo o Ecad (Escritório Central de Arrecadaçã­o e Distribuiç­ão). Brown não compõe “música do Carnaval” desde “Cadê Dalila”, lançada em 2009 na voz de Ivete Sangalo, mas tem repertório próprio de mais de 400 músicas.

Outros compositor­es baianos como Bell Marques, Durval Lélys, Manno Góes e Saulo Fernandes ficaram entre os dez que mais arrecadara­m no país no Carnaval do ano passado. A maioria deles amparada em sucessos de antigos Carnavais.

É com base nesse repertório de clássicos que o axé segue sobreviven­do, seja nas fanfarras, nos blocos de rua ou nos trios elétricos.

Diz a cantora Claudia Leitte: “O axé é muito forte. Não tem como fugir da tradição, o coração do Carnaval é a música baiana”.

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Integrante de grupo do 28º Encontro de Maracatus do Baque Solto, em Nazaré da Mata
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Bloco Havaianas Usadas, fundado em 2017, em desfile na zona leste de Belo Horizonte
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André Fofano/Agência Tempo/Folhapress O cantor Bell Marques se apresenta no Farol da Barra

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