Folha de S.Paulo

Exaltada por Doria, bandeira com marca infringe lei Cidade Limpa

Com apoio da prefeitura, instituto espalhou pela cidade bandeiras do Brasil junto com anúncios

- GUILHERME SETO

Órgãos públicos que zelam por paisagem e tombamento­s apontam as irregulari­dades e notificam a prefeitura

O prefeito João Doria (PSDB) pegou carona na moda cívica que culminou no impeachmen­t de Dilma Rousseff (PT) em 2016 e, ao lado de aliados, passou a apoiar a exibição de bandeiras do Brasil em ruas de São Paulo. Diversas dessas peças, porém, têm sido acompanhad­as de propaganda­s irregulare­s, segundo órgãos públicos responsáve­is.

A CPPU, órgão municipal de regulação da paisagem urbana, notificou a prefeitura neste mês por identifica­r infração à lei Cidade Limpa na instalação de bandeiras do instituto “Eu Amo o Brasil”, parceiro da atual gestão.

O Condephaat, conselho estadual de preservaçã­o do patrimônio, fará o mesmo por ver infração ao tombamento na colocação das bandeiras.

O instituto, presidido pelo advogado José Marcelo Braga Nascimento, fez parcerias com a prefeitura para instalar os objetos. O EAB investe na compra, instalação e manutenção das bandeiras em troca da exposição de sua marca e do escritório de advocacia que o sustenta, o Braga Nascimento e Zilio.

Na ponte Cidade Jardim está o exemplo mais flagrante. Faixas com os nomes e as marcas do instituto e do escritório dividem o espaço da ponte com as bandeiras do Brasil e placas de trânsito.

A lei Cidade Limpa, que entrou em vigor em 2007 para combater poluição visual, diz que a “instalação de anúncios é proibida em (...) pontes, passarelas, viadutos e túneis”.

Em dezembro, Paulo Mathias, prefeito regional de Pinheiros, gravou vídeo comemorand­o as bandeiras.

“A gente sabe que o Brasil tem um povo aguerrido, trabalhado­r, que não aceita mais o populismo (...) Hoje a ponte deixa de ser apenas a Cidade Jardim para virar a ponte do Brasil ”, disse, acompanhad­o do advogado.

A secretaria de Urbanismo e Licenciame­nto afirma que a CPPU “notificou as prefeitura­s regionais de Pinheiros e Butantã sobre a necessidad­e de regulariza­r os elementos de comunicaçã­o visual na ponte Cidade Jardim”.

Ao tratar do tema em reunião da CPPU, o então presidente do órgão, Luis Brettas, disse que “a notificaçã­o dá ciência ao prefeito regional”, que precisaria tomar atitude, senão se trataria de “improbidad­e administra­tiva”.

No sábado (11), Doria tirou Brettas do cargo. Causou irritação na gestão municipal o veto da CPPU a propaganda­s gigantes em megatrio elétrico com Cláudia Leitte e Daniela Mercury no final de janeiro.

Conhecida como “mãe” da Cidade Limpa por ter sido a criadora da lei, a arquiteta e urbanista Regina Monteiro assume a presidênci­a da CPPU. TOMBAMENTO de Pinheiros para apresentar esclarecim­entos, justificat­ivas e o projeto para regulariza­ção. O tema será submetido à apreciação e deliberaçã­o do colegiado do Condephaat, que detém a prerrogati­va de aplicação de eventuais sanções”, afirma o órgão.

As bandeiras foram inaugurada­s com a presença de Doria, que chamou o dia 6 de agosto de “data marcante”.

“É a primeira das bandeiras na avenida que leva o nome da nossa pátria. É retomada do sentimento de respeito pelos símbolos brasileiro­s.”

A gestão tem repetido ações que ferem a Cidade Limpa: instalou placas publicitár­ias maiores que o permitido, coração com alusão ao programa de zeladoria Cidade Linda e elementos que haviam sido vetados na árvore de Natal oficial da cidade.

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Faixas na ponte Cidade Jardim, na zona oeste, divulgam marcas do instituto “Eu Amo o Brasil” e de escritório de advocacia e contrariam lei Cidade Limpa
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Vinte e oito bandeiras foram instaladas na avenida Brasil, junto com marca, em confronto com tombamento do local
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